Os biótopos: comunidades em perfeito equilíbrio
Comecemos por definir o termo biótopo. A palavra vem do grego clássico, sendo que "bios" significa "vida" e "topos" é "lugar". Um biótopo corresponde a um ambiente muito bem delimitado geograficamente, com condições ambientais e uma distribuição da vida animal e vegetal uniformes, onde todos os organismos que ocupam esse ecossistema se constituem numa comunidade biológica designada por biocenose, convivendo e desenvolvendo relações entre si.
Embora o termo "biótopo" seja geralmente usado como sinónimo de "habitat" — palavra que deriva do latim, de "habitare", que quer dizer "habitar" ou "viver", e não da língua inglesa, ao contrário do que muita gente supõe —, do ponto de vista científico os dois conceitos são distintos, não se confundem. A definição de habitat é bem mais antiga, pois o conceito é usado desde meados do século XVIII, ao passo que o conceito de biótopo só começou a ser clarificado na viragem do século XIX para o século XX.
Quando falamos de um habitat estamos a referir-nos ao ambiente natural de uma determinada população de uma espécie em particular, por exemplo, a zona em que é natural que uma população dessa espécie viva e se desenvolva, que pode ser mais ou menos vasta em termos geográficos e até climáticos. Já o tema central de um biótopo é muito mais restrito, é a biocenose, a comunidade biológica de um local bem mais pequeno. Ou seja, tal como na distribuição geográfica de uma mesma espécie podemos encontrar habitats diferentes entre si, também no habitat de uma população dessa espécie podemos encontrar inúmeros biótopos bem distintos.
O que é um aquário de biótopo?
Para nos ajudar a explicarmos melhor os conceitos fundamentais envolvidos nos aquários de biótopo, pedimos ajuda a Oleg Labutov, o fundador do Biotope Aquarium Design Contest, uma competição a nível global que arrancou em 2011 e que congrega actualmente muitos dos mais conceituados especialistas no assunto. Pois bem, caro leitor, imagine a nossa sorte — e a sua também! —, pois temos aqui no site um texto que ele gentilmente nos cedeu com uma explicação detalhada sobre o que é um aquário de biótopo.
Nota: os leitores mais atentos irão certamente reparar que nas fichas que existem no nosso site com informação sobre cada espécie é utilizado o conceito de "distribuição geográfica", paralelamente ao do "habitat". Ora a definição científica de distribuição geográfica corresponde à área onde uma espécie em particular pode ser encontrada durante a sua vida, que pode ser mais ou menos vasta e inclui as zonas em que os indivíduos ou as comunidades podem migrar ou hibernar.
- As zonas de distribuição geográfica mais comuns
Das origens da Ecologia até aos biótopos
Se tem curiosidade em saber quando, onde e como se começou a falar de biótopos, então fique a saber que foi na Alemanha, pela mão de um grupo de cientistas que lançaram as bases de muitas ideias que hoje em dia temos por adquiridas. Aliás, tudo começou com o conceito de "Ecologia", que foi inicialmente introduzido em 1866 pelo zoólogo e professor alemão Ernst Haeckel (1834-1919), que definiu também o termo. No original, em alemão, "Ökologie" derivou da junção das palavras gregas "oikos", que significa "casa", com "logos", que quer dizer "estudo". Ora não deixa de ser curioso constatar como hoje em dia quando as pessoas pensam em algo "ecológico" estão geralmente a pensar que é algo "amigo do ambiente", algo que contribui para preservá-lo, não concorda, caro leitor? Na percepção de um leigo a semântica já mudou.
Porque na realidade a Ecologia é o ramo da Biologia que estuda as interacções entre os seres vivos e as interacções deles com o respectivo meio ambiente, a sua "casa", o lugar onde eles habitam. Entre outros assuntos, abrange o estudo científico da distribuição e da abundância dos organismos e dos factores que determinam a sua distribuição. Nos seus trabalhos, Haeckel rapidamente se apercebeu da importância do conceito de habitat como pré-requisito para a existência de qualquer espécie de ser vivo e na sequência dessa investigação acabaria por ir mais longe e explicar que num ecossistema a sua biocenose, ou biota, é moldada não apenas pelos factores ambientais — como a água, o solo e as características geográficas — como também pelas interacções entre todos os seres vivos que nele habitam, desde os micro-organismos aos maiores.
Note-se que a ideia original de Haeckel estava intimamente relacionada com a teoria sobre a evolução das espécies, sendo que o termo "biocenose" (do grego bios, "vida" e koinos, "comum", "público") na acepção de comunidade biológica ou até de associação de comunidades num determinado habitat já existia. Tinha sido criado por outro zoólogo e professor alemão, também pioneiro no ramo da Ecologia: Karl Möbius (1825-1908), director do Museum für Naturkunde, em Berlim. Möbius optara por usar as palavras biocenose, ou biota, para fazer sobressair a importância das relações de vida em comum dos seres que habitam determinada região.
Pouco tempo depois, um aluno de Karl Möbius chamado Friedrich Dahl (1856-1929) igualmente alemão, também zoólogo e professor, que viria a tornar-se curador de aracnídeos Museum für Naturkunde, onde trabalhou com seu ex-professor — pois Karl Möbius era então o director do museu, como já referimos —, acabaria por referir-se a esse sistema ecológico como um "biótopo". Embora as aranhas fossem claramente o principal foco de interesse de Dahl, ele acabaria por descrever muitos outros grupos de animais, pois também tinha um profundo interesse na biogeografia e no comportamento dos animais em geral.