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Aquariofilia

Dez regras básicas para um aquário saudável

Prestando atenção aos detalhes é fácil conservar o aquário saudável

A «Lei de Murphy» e os aquários

A ideia de que «se alguma coisa puder correr mal, irá certamente correr mal» não necessita obrigatoriamente de se aplicar aos aquários. Quanto mais nós soubermos acerca do nosso tanque, menores serão as probabilidades de os nossos peixes morrerem.

 

Conseguir manter um aquário equilibrado e que funcione em excelentes condições durante anos não é uma tarefa muito complicada com os equipamentos e a tecnologia disponíveis hoje em dia, sobretudo se prestarmos atenção a alguns aspectos cruciais. Mas para a maior parte dos aquariófilos inexperientes identificar esses pormenores pode implicar «lições» particularmente dolorosas e com custos elevados. E a verdade é que a maior parte deles podem ser sintetizados de forma sistemática; consistem basicamente em dez «regras de ouro» — uma espécie de leis naturais —, que devem ser criteriosamente observadas para se conseguir pôr qualquer tanque a funcionar correctamente e conservá-lo em óptimas condições.

 

Convém no entanto referir que, apesar de no plano teórico a estrita observância destas leis ajudar a criar as condições para que peixes e plantas possam disfrutar de uma vida saudável e vigorosa, elas dependem sempre de factores incertos. Dependem nomeadamente das condições específicas do aquário durante as semanas seguintes à sua instalação — a chamada fase de «arranque», ou de «ciclagem» — e dependem também de todas as ocorrências posteriores que envolvam a comunidade de seres vivos, pois se um peixe for constantemente agredido por outro, poderá ficar doente e transmitir esse problema a todos os outros. Mas também nestes casos a atenção aos detalhes ajudará a prevenir em vez de ter de se remediar.

 

Regra #1 - Fomentar uma filtragem biológica eficiente [+]

Por «biológica» entende-se uma filtragem através de um meio ou matéria filtrante que as bactérias aeróbicas oxidantes possam colonizar e a partir daí exercer a sua acção benéfica na água, para retirarem dela certas substâncias prejudiciais, limpando-a e purificando-a. Aliás, existem até algumas bactérias especiais que conseguem mesmo remover da água o excedente de fertilizantes. Várias estações de tratamento de esgotos industriais também se socorrem desta técnica de filtragem, embora em grande escala, como é óbvio. Através dela, chega até a ser possível a regeneração da água dos esgotos ao ponto dessa água voltar a ser potável, com uma qualidade que a torne apta para ser bebida sem problemas pelo ser humano. Resumindo: é fundamental manter sempre a filtragem biológica em excelentes condições, para que as bactérias «boas» existentes no nosso aquário mantenham o ambiente permanentemente limpo e saudável.

 

Nos dias de hoje praticamente todos os grandes fabricantes de equipamentos de tratamento de água e filtros para aquários oferecem uma gama completa dos produtos necessários para assegurar essa purificação controlada por bactérias aeróbicas, que necessitam de oxigénio (as bactérias que convertem a amónia em nitritos, como as Nitrosomonas, as Nitrosospira, as Nitrosococcus e as Nitrosolobus, e as que convertem os nitritos em nitratos, como as Nitrobacter, as Nitrospina e as Nitrococcus). Desde massas filtrantes com superfícies especialmente vocacionadas para serem colonizadas por esse tipo de bactérias até super-alimentos para essas bactérias ou mesmo culturas específicas de bactérias prontas a serem directamente introduzidas no tanque, nada falta nos dias de hoje no mercado, sendo que essas culturas se revelam muito úteis na instalação de um novo aquário e durante a fase de ciclagem ou de amadurecimento do sistema.

 

Regra #2 - Ter a temperatura correcta em todo o ambiente [+]

Esta regra é particularmente importante nos aquários tropicais e além da água estende-se ao substrato. A atmosfera é um factor abiótico — de suporte à vida — decisivo em qualquer habitat e a temperatura da atmosfera assume uma importância crítica. No caso dos peixes, a questão da temperatura estende-se à água, pois como são seres ectotérmicos a temperatura do seu sangue é igual à da água (e sendo peixes tropicais o seu metabolismo depende da temperatura ideal). A questão mais importante aqui é evitar que o aquário esteja numa zona de correntes de ar — evitar flutuações de temperatura no exterior — e criar uma corrente de água que assegure uma circulação uniforme em todo o aquário, tendo sobretudo muita atenção para que não haja grandes diferenças de fluxo entre as partes altas da coluna de água e as partes mais fundas, mais junto ao substrato. A superfície do substrato deve ser sempre bem arejada, mas de uma forma que não a agite demasiado e que contribua sobretudo para manter a oxigenação e a temperatura da água uniformes em todo o aquário.

 

A realidade é que em países como o nosso, que têm grandes amplitudes térmicas com as diferentes estações do ano, na maior parte dos aquários plantados as diferenças de temperatura entre o substrato e a água acaba por ser um dos grandes factores restritivos ao desenvolvimento das plantas enraizadas. Embora seja um método muito pouco implantado entre nós, o sistema de aquecimento colocado debaixo do areão é inquestionavelmente o que proporciona melhores resultados com as plantas enraizadas. Se tiver optado por um aquecimento enterrado sob o areão do aquário lembre-se que ele deve abarcar todo o substrato e interagir com todo o ciclo físico-químico do tanque, fomentando a criação de correntes de convecção.

 

E em que é que consiste a convecção? Na explicação dada pelo dicionário, é a «transferência da energia calorífica através de um líquido ou de um gás, efectuada à custa do movimento do próprio fluido». Simples, não é? Se o aquecimento for processado por meio de um termostato imerso no aquário, por exemplo — como é vulgar verificar-se —, apenas a água é aquecida. Perante isso, é indispensável fazê-la circular também junto ao substrato, para ele não permanecer à temperatura ambiente do sítio onde o tanque estiver colocado. Ou seja, se não se tiver esse cuidado haverá sempre diferenças de temperatura não recomendáveis. No caso dos aquecimentos especificamente concebidos para serem colocados debaixo do substrato esse problema não se coloca. Também por isso se recomenda usar um material isolante sob a base do aquário, como esferovite, por exemplo, não só para proteger o vidro das irregularidades na superfície da base mas também para atenuar grandes diferenças ou variações muito rápidas de temperatura.

 

De facto, se o substrato não for convenientemente ventilado, uns meses depois o mais provável é que comece a ficar sujo e muito escuro, quase negro, e que as raízes das plantas não consigam desempenhar a função que lhes compete. O resultado é que as plantas começam lentamente a definhar e acabam por morrer. Ao invés, um sistema de aquecimento enterrado no substrato ajuda a simular no aquário as correntes subterrâneas que existem em todas as águas naturais com algum movimento. E como o calor sobe, a água fica rapidamente à mesma temperatura, obtendo-se um clima mais ou menos uniforme.

 

Aqui é também importante notar que um substrato equilibrado não depende só da qualidade; depende igualmente da quantidade. Como substrato equilibrado recomenda-se uma primeira camada com 2 a 3 centímetros de espessura composta por uma mistura de areão e de laterita tropical com um elevado índice de ferro e de outros nutrientes para as plantas. Cham-se a isto vulgarmente um substrato fértil. Esta camada deve ser secundada por uma outra de sensivelmente igual espessura mas já só de areão, sendo que o areão deve ser composto por pequenos seixos inertes de entre 0,5 milímetros até 2 a 3 milímetros de diâmetro cada. Se os grãos forem muito menores do que isto impedirão que o substrato respire; se forem maiores acabarão por acumular resíduos nos seus interstícios e fomentar colónias de bactérias anóxicas, o que também não é bom.

 

Este tipo de substrato apresenta as seguintes vantagens: os materiais nutrientes para as plantas serão activados no substrato e poderão ser absorvidos por elas tanto através das raízes como das folhas. Além disso, misturando-se seixos deste diâmetro, o oxigénio poderá ser levado até ao substrato, mantendo-o funcional por um período de tempo muito alargado. E seria errado pensar que os aquecedores enterrados debaixo do substrato podem apresentar mais riscos para a segurança das pessoas e dos peixes em caso de avaria do que os outros, pois os padrões de fraca voltagem adoptados pela indústria são muito semelhantes para todos os equipamentos. Todavia, mesmo sem aquecedores enterrados, através do direccionamento da corrente da saída do filtro, podem-se conseguir excelentes resultados em aquários inferiores a 300 litros. Uma vez mais, a chave é termos uma circulação eficaz da água, como iremos ver na regra seguinte.

 

Regra #3 - Provocar uma eficaz circulação da água [+]

Acabámos de falar disto na regra anterior, mas nunca é demais salientá-lo: há quem pense que uma circulação eficaz da água equivale a falar de uma forte circulação da água, mas na realidade não é bem assim. Além da distribuição uniforme da temperatura por todo o ambiente, uma circulação eficaz também tem de transportar oxigénio a todos os níveis da coluna de água dentro do tanque. A superfície da água deve estar bem movimentada, para facilitar as trocas gasosas indispensáveis à regeneração da água, mas tem de haver igualmente uma boa oxigenação das zonas mais fundas. Isso é essencial. Além disso, a circulação também deverá estar ajustada às necessidades das espécies de peixes e plantas que queremos colocar no aquário. No entanto, para esses será certamente mais prejudicial uma circulação deficitária do que ligeiramente superavitária. O que temos que ter sempre presente é que uma boa movimentação da água é essencial pelas seguintes razões:

 

  1. Para facilitar as trocas gasosas à superfície do aquário, oxigenando a água
  2. Para assegurar uma temperatura constante em todas as zonas submersas do tanque
  3. Para retirar os resíduos orgânicos das folhas das plantas, onde limitariam a sua capacidade de absorver a luz
  4. Para permitir que nutrientes frescos possam chegar à superfície das folhas das plantas
  5. Para providenciar uma corrente aos peixes e plantas originários de zonas com águas mais rápidas

 

Escusado será alargarmo-nos neste ponto: com a quantidade de filtros e bombas existentes hoje no mercado, a implementação de um sistema que ajude a atingir este propósito é algo extremamente simples. Para os mais perfeccionistas, existem até bombas de circulação específicas, facilmente direccionáveis, que permitem criar uma corrente eficiente e eliminar eventuais pontos-mortos no aquário sem qualquer dificuldade.

 

Regra #4 - Implementar uma iluminação adequada [+]

A luz assume uma dupla função para o sistema dentro do aquário: ilumina a pequena cópia do mundo aquático de uma forma adequada aos olhos humanos — e aos olhos dos peixes que nele habitam — e fornece simultaneamente a energia de que as plantas necessitam para fazerem a fotossíntese e crescerem. Na verdade, esta segunda função da iluminação afigura-se como um aspecto muito importante no seio dos processos químicos e biológicos que se completam no aquário e muitas vezes, designadamente quando já são velhas, certas lâmpadas ainda conseguem assegurar a primeira função em condições satisfatórias mas já não a segunda. Isso é muito importante quando se usam sistemas de iluminação fluorescentes (em que as lâmpadas deveriam ser trocadas ao fim de 8-10 meses) e exceptuam-se disto os sistemas de iluminação LED, mais modernos, que mantêm a intensidade até ao fim da vida útil.

 

Com efeito, a luz é precisa para fornecer energia e é dessa energia que as plantas precisam para terem um óptimo metabolismo. A luz é, por assim dizer, o «motor» que faz andar a vida no aquário: ajuda as plantas a regularem as suas exigências de nutrientes, a produzirem oxigénio e a controlarem assim as descargas de dejectos orgânicos que são produto dos seus metabolismos e dos dos outros seres vivos que com elas coabitam. E também aqui não é só a quantidade, mas também a qualidade, da luz que conta. Por isso, a iluminação deve estar tanto adaptada às dimensões do aquário — incluindo a profundidade — como à água e as condições de vida do seu meio ambiente. Quando se fala de quantidade de luz temos de ver se estamos a falar de período de exposição — o fotoperíodo — ou se estamos a falar também da sua intensidade, sendo que esta última tanto se pode medir pela quantidade total de luz emitida pelas lâmpadas (em lumens), pelo seu impacto na superfície da água (em lux, sendo que 1 lux é equivalente a 1 lumen por metro quadrado) como pela energia consumida na sua fonte (em watts).

 

Relativamente à intensidade de luz necessária para as plantas, essa depende do tipo de plantas que temos no aquário. Para as plantas consideradas «fáceis», a referência são entre 10 a 20 lumens (0,25 a 0,5 watts) por litro. Para as plantas de dificuldade «média» já se recomendam entre 20 a 40 lumens (0,5 a 1 watts) por litro. Por último, as plantas ditas «avançadas» exigem mais de 40 lumens (mais de 1 watt) por litro. Quanto ao fotoperíodo, ou seja, por quanto tempo deve a iluminação do aquário estar acesa por dia, os valores de referência oscilam muito caso a caso, podendo ir das 6 até às 12 horas diárias (12 horas corresponde sensivelmente ao fotoperíodo nos trópicos), embora o período de referência seja geralmente considerado 8 horas. Aqui convém também sublinhar que se recomenda o uso de um temporizador para acender e apagar a iluminação do aquário sempre às mesmas horas. Os peixes e as plantas também gostam de horários certos e o mais aproximados possível do horário solar, pois é este que controla os respectivos biorritmos.

 

Regra #5 - Assegurar a estabilidade dos parâmetros da água [+]

Como regra geral para um aquário comunitário, basicamente o que se pretende é isto: um valor neutro no pH, uma dureza de carbonatos (KH) estável e ainda uma dureza total (GH) moderadamente dura. Na sigla KH a origem do K é a palavra em alemão Karbonathärte, pois os valores da KH referem-se aos carbonatos e bicarbonatos dissolvidos na água, medem-se em dKH ou °KH e num aquário comunitário devem ser de 5-10 dKH no mínimo (há espécies que preferem valores ainda mais baixos, na casa dos 2-5 dKH, e outras que os querem muito mais altos, na casa dos 12-20 dKH, mas não são aptas para aquários comunitários). Os valores da GH referem-se sobretudo ao magnésio e ao cálcio dissolvidos na água, medem-se em miligramas por litro ou partes por milhão (ppm) e num aquário comunitário devem ser de 89-178 mg/l (uma vez mais, há espécies que preferem valores ainda mais baixos, na casa dos 36-89 mg/l, e outras que os querem muito mais altos, na casa dos 178-350 mg/l, mas por isso estas espécies também não são adequadas para aquários comunitários).

 

Isto sempre tendo em conta um aquário comunitário — algo que por convicção pessoal, admitimo-lo, não consideramos a melhor opção, preferindo claramente os aquários de biótopo —, onde tanto os peixes como as plantas provêm frequentemente de águas que diferem entre si tanto geográfica como quimicamente. Alguns vêm de águas mais ácidas, outros de águas ligeiramente alcalinas. Por conseguinte, neste tipo de tanques comunitários a solução é tentar «agradar a gregos e a troianos». Nestes casos um pH de valor neutro é o recomendável para se criar um ambiente apto para todos os peixes e todas as plantas. E é fácil estabelecer e manter um pH neutro, particularmente se se tiver uma dureza de carbonatos adequada ou se instalar um sistema de fertilização por injecção de dióxido de carbono no tanque, solução que permite simultaneamente fornecer às plantas aquáticas submersas a quantidade óptima de carbono, um dos fertilizantes essenciais para a sua constituição. Quanto ao modo de regulação dos sistemas modernos de fertilização através do fornecimento suplementar de dióxido de carbono, tanto pode ser semi-automático como totalmente automático, sendo que o fornecimento de C02 deve ser interrompido durante a noite, quando o aquário está às escuras.

 

Regra #6 - Proporcionar uma nutrição natural às plantas [+]

A pré-condição mais importante para que haja um crescimento saudável das plantas dentro do aquário é que elas tenham sempre disponíveis todos os nutrientes de que necessitam, incluindo os elementos residuais. Tal como sucede com todas as plantas, também as plantas aquáticas necessitam de três macronutrientes não-minerais: o hidrogénio (H), o oxigênio (O) e o carbono (C). Como é evidente, num aquário o hidrogénio e o oxigénio são estruturais, encontram-se na própria água, pois cada molécula de água é composta por 2 átomos de hidrogénio e um átomo de oxigênio, ligados entre si (H2O). Porém já o mesmo pode não suceder com o carbono, daí a vantagem de de se usar um sistema difusor de dióxido de carbono (CO2) como complemento de fertilização num aquário em que se mantenham plantas.

 

Todavia, estes 3 nutrientes não-minerais por si só não chegam e na esmagadora maioria dos casos as plantas precisam de ser periodicamente fertilizadas com os chamados nutrientes minerais. Existem 13 nutrientes minerais necessários para o saudável crescimento das plantas e estes dividem-se em dois grupos: os macronutrientes (também chamados nutrientes primários) e os micronutrientes (os secundários). Os macronutrientes minerais são o nitrogénio (N), o fósforo (P), o potássio (K), o cálcio (Ca), o magnésio (Mg) e o enxofre (S). A maior parte destes macronutrientes tem por norma de ser adicionada à água dos aquários com plantas, pois elas necessitam deles para crescerem e se desenvolverem. Nos aquários onde a água é dura, alguns destes minerais — como o magnésio, o cálcio e o enxofre — estão geralmente presentes em grandes quantidades, mas numa zona onde a água seja macia pode ser necessário adicionar magnésio, cálcio e enxofre à água para aumentar os níveis de dureza e fornecer esses nutrientes essenciais para as plantas. Porém, continua sempre a ser preciso fornecer-lhes os restantes macronutrientes minerais — que por norma escasseiam —, os chamados NPK, sigla que junta o nitrogénio (N), o fósforo (P) e o potássio (K).

 

Contrariamente às águas tropicais onde essas plantas habitam, a água da torneira apresenta grandes deficiências no domínio dos nutrientes minerais: além de lhe faltarem frequentemente muitos macronutrientes importantes, o pior é que lhe faltam quase sempre os micronutrientes, que apesar de serem tidos como secundários ou elementos residuais — tendo inclusivamente a maior parte deles sido extraída da água durante os processos a que ela foi sujeita na estação de tratamento para a tornar apta para consumo doméstico — continuam a ser indispensáveis para o desenvolvimento das plantas. Na realidade eles apenas são chamados micronutrientes porque as plantas geralmente só requerem pequenas quantidades deste tipo de minerais. Estes micronutrientes são o boro (B), o cobre (Cu), o ferro (Fe), o cloreto (Cl), o manganês (Mn), o molibdênio (Mo) e o zinco (Zn). No caso do ferro, por exemplo embora seja absolutamente essencial para o crescimento das plantas (designadamente para a produção de clorofila), encontra-se quase sempre em quantidades insuficientes na água da torneira. Ora, sem uma quantidade de ferro adequada (cerca de 0,1 a 0,5 ppm), as plantas ficam com as folhas amareladas, não crescem e nunca terão um verde escuro.

 

Além disso, muitos nutrientes — especialmente alguns micronutrientes que se assumem como elementos residuais importantes — são completamente consumidos pela luz ou pelas plantas no aquário. Todavia, mesmo que só lhes falte um único nutriente, o crescimento das plantas é atrofiado ou então acabam mesmo por perecer, tal como nos enuncia a «Lei dos Mínimos» de Justus von Liebig: «a distribuição de uma espécie é controlada por aquele factor ambiental para o qual o organismo apresenta o menor grau de adaptabilidade ou controlo». Trocado por linguagem de leigos isto quer dizer que se aumentarmos só a luz ou só a fertilização, isso por si só não chega para todas as espécies de plantas de aquário se desenvolverem: algumas precisam de mais luz do que as outras, algumas precisam de muito mais CO2 do as outras, etc.

 

A título complementar, refira-se uma outra lei de Liebig, a «Lei dos Factores Limitativos», segundo a qual há seis factores que afectam o crescimento e a produção das plantas; são eles o ar, a água, a luz, a temperatura, o solo e os nutrientes que estiverem disponíveis no meio ambiente. De acordo com esta lei, «a produção de uma colheita é restringida pela falta de um único elemento, mesmo que possam todavia existir quantidades suficientes de todos os outros nutrientes essenciais». Ou seja, esta lei também se aplica ao crescimento da vegetação no nosso aquário. Todas as plantas precisam de todos os factores em quantidades equilibradas e isso nota-se claramente por vários sintomas que se manifestam quando há uma deficiência de minerais indispensáveis para elas prosperarem.

 

Regra #7 - Plantar de forma densa e abundante [+]

Tal como sucede no ambiente terrestre, também no aquário a criação das melhores condições de vida exige uma boa vegetação. Para se manterem em óptimas condições, os aquários devem ter uma densa quantidade de plantas saudáveis e que nele cresçam vigorosamente. Desde logo porque, entre várias outras, um tanque bem plantado apresenta as seguintes vantagens:

 

  • As plantas libertam oxigénio para a água e para o substrato, prevenindo desse modo que o substrato fique preto
  • As plantas removem detritos orgânicos
  • Algumas plantas em especial são capazes de destruir germes causadores de doenças...
  • ...e até remover substâncias tóxicas da água
  • Uma vegetação densa e com forte crescimento é a melhor protecção contra todos os tipos de algas...
  • ...e ajuda a criar bons esconderijos e lugares de procriação para os peixes

 

Regra #8 - Manter uma população de peixes equilibrada [+]

Para qualquer aquariófilo, o conceito de uma população de peixes equilibrada é indissociável da sua ambição de projectar um ambiente óptimo tanto para os peixes como para as plantas. No tanque ideal, os peixes e as plantas devem resultar numa combinação harmoniosa e para que isso se verifique há que observar estas regras básicas:

 

  • Não misturar peixes que se ataquem uns aos outros continuamente
  • Evitar peixes que comam plantas
  • Introduzir no tanque desde o início peixes comedores de algas a título preventivo
  • Ter a certeza de que todos os peixes têm as mesmas exigências relativamente à água, especialmente no que toca à temperatura, ao pH e à dureza
  • Escolher peixes que ocupem todas as áreas do aquário, ou seja, as zonas do fundo, do centro e da superfície
  • Não introduzir peixes com gostos alimentares fora do vulgar, sobretudo quando não se tem a certeza de lhes poder depois vir a fornecer sempre a alimentação de que necessitam

 

Regra #9 - Recriar os ambientes originários dos peixes [+]

Estamos agora a chegar à parte mais interessante. Como é que conseguimos cuidar dos peixes recriando condições compatíveis com as que eles encontram nos trópicos? Muito simples: em primeiro lugar recolhendo informação sobre isso, ou seja, estudando. A ideia é tentar recriar com todo o detalhe a geografia subaquática da zona, os parâmetros bioquímicos,a flora endémica, etc. O resto é a parte mais fácil: os peixes dependem de uma alimentação equilibrada, rica em vitaminas e que possam digerir com facilidade para gozarem de uma boa saúde e terem um comportamento naturalmente activo no longo prazo, tal como os restantes animais. E esse tipo de alimentação é hoje em dia fácil de encontrar nas lojas da especialidade.

 

Aliás, como a maioria dos peixes tropicais provêm de águas com níveis de salinidade muito reduzidos, essas comidas já asseguram que eles apenas recebam uma dieta com muito pouco teor de sal, caso contrário a ocorrência de doenças intestinais seria algo praticamente inevitável. Assim, resta pouco com que se preocupar ao aquariófilo neste domínio: é só ver se os flocos, o granulado ou as tabletes são adequadas ao tipo de peixes — dependendo se eles se alimentam à superfície, se comem no fundo, etc — e à dimensão das suas bocas. Ocasionalmente, pode variar a dieta dando-lhes comida congelada de fonte fidedigna ou mesmo alguns vegetais frescos.

 

Regra #10 - Monitorizar frequentemente todas as variáveis [+]

Depois de instalado o aquário, a componente mais importante da sua manutenção passa a residir sobretudo no controlo minucioso e regular dos parâmetros mais importantes da água. É assim que se conseguirá prevenir que as condições dentro do aquário possam modificar-se de tal modo que venham a descambar para níveis incontrolados. Aquelas pequenas mudanças que ocorrem a cada dia não devem passar despercebidas ao aquariófilo, sob pena de mais tarde ele se vir na obrigação de efectuar grandes mudanças, que dão muito mais trabalho e apresentam quase sempre resultados pouco satisfatórios.

 

Equivale isto a dizer que é necessário monitorizar diariamente a temperatura e testar com regularidade parâmetros como o valor do pH, a amónia, os nitritos e os nitratos e a dureza de carbonatos. Complementarmente, devem-se verificar também os teores de ferro e de cobre e os níveis de fosfatos. Comparado com os cursos naturais, o aquário é uma massa de água muito pequena e os valores obtidos nestes testes provam que frequentemente esses parâmetros podem oscilar de um extremo ao outro num curto período de tempo. É por isso que o aquariófilo deve tentar obter um elevado grau de estabilidade e continuidade no meio a seu cargo. Tal como esta regra se aplica a qualquer sistema vivo, também aqui a análise e o diagnóstico são sempre essenciais para a terapia.

 

Bibliografia:

 

Axelrod, Herbert R. (1998): «Setting Up Your First Aquarium», Chelsea House Publishers, Broomall, PA, EUA

 

Bailey, Mary e Sandford, Gina (1999): «The Complete Guide to Aquarium Fish Keeping», Lorenz Books, New York, NY, EUA

 

Burkhart, Alice e Doyle, Barbara (1997): «Keeping Murphy Out Of Your Aquarium», Intelli-Type, Arlington, TX, EUA

 

Scott, Peter W. (1995): «The Complete Aquarium», Dorling Kindersley, London, Reino Unido