Os problemas
Os aquários são ecossistemas minúsculos, com um equílibro extremamente delicado, que exigem uma atenção regular para evitar que os pequenos desajustes passem num instante de um problema menor para uma mortandade. Já nos lagos, como são ecossistemas maiores e precisamente por isso mais estáveis, a margem de manobra costuma ser ligeiramente menos rígida, embora seja igualmente necessário actuar com rapidez sempre que for detectada alguma irregularidade. Em qualquer dos casos, a questão crucial é corrigir os problemas precocemente, enquanto podem ser remediados sem pôr em causa a estabilidade do sistema e a vida dos habitantes.
Tal como em tudo que tem a ver com a vida, os problemas que podem afectar os nossos tanques dividem-se basicamente em dois grupos. Por um lado, aqueles que se podem antecipar e evitar com toda a facilidade. No extremo oposto estão os problemas mais complexos, como as doenças, por exemplo, que são analisadas com detalhe noutra parte do site. É certo que os problemas complicados surgem-nos às vezes de forma imprevista e entre eles contam-se designadamente as falhas de energia inesperadas e prolongadas. Quando elas ocorrem estando nós ausentes podem resultar num verdadeiro apocalipse para o equilíbrio. Esta constatação até pode parecer um truísmo banal, do tipo «verdade de La Palisse», mas a realidade é que a esmagadora maioria dos problemas que ocorrem nos aquários até são relativamente fáceis de evitar, com particular destaque para os chamados "erros de principiante". Tudo começa pelo planeamento correcto antes da instalação do tanque e por aprendermos a "ler" e a interpretar correctamente os sinais de aviso.
Quando analisámos as noções essenciais e planeamento do aquário salientámos a importância de fazer desde o início as opções mais adequadas relativamente aos factores críticos para o equilíbrio do ambiente a longo prazo. Só para recapitular alguns dos aspectos essenciais, saber escolher o tanque certo, a filtragem, o substrato e os elementos paisagísticos, bem como a iluminação, além de planear muito bem a forma como a água irá circular no sistema, já é "meio caminho andado" para evitarmos muitos dos erros mais comuns e os problemas que deles resultam, os tais que requerem alguma pesquisa e uma boa planificação para poderem ser prevenidos. Depois de tomadas as decisões certas, tudo é muito mais fácil. Basta termos paciência e nunca nos esquecermos de que tudo o que tem a ver com o curso da Natureza possui um ritmo próprio e que precisa de tempo. E sobretudo irmos monitorizando com regularidade a evolução das variáveis bioquímicas. Mesmo as nossas ausências, sejam elas por uns dias ou umas férias prolongadas, não costumam representar também nenhum problema para o equilíbrio do tanque se forem precedidas de uma preparação correcta.
Os principais indicadores dos desequilíbrios
Quando alguma coisa não está bem num aquário ou num lago, os sinais de alerta mais evidentes são-nos transmitidos na esmagadora maioria das vezes pelos peixes. Porquê? Por duas razões, ambas óbvias para falar verdade. A primeira é porque são eles quem sofre logo com a deterioração das condições no meio ambiente onde vivem. Já a segunda razão consiste no simples facto de serem eles os principais protagonistas da nossa atenção. Todavia, para um aquariófilo experiente, com o olho "treinado", existem vários pequenos detalhes que revelam a existência dos problemas antes deles chegarem a esse ponto. Até porque os peixes por regra só se "queixam" quando o seu desconforto perante as condições adversas já é notório, pois são seres bastante resistentes e adaptáveis. Perante o aparecimento de sinais suspeitos, que apontem para a iminência de algum desequilíbrio, devem ser verificados de imediato os aspectos mais críticos de pré-diagnóstico (sendo que muitos desses tópicos até devem ser verificados diariamente).
Nota: sempre que for detectado algum problema no tanque a primeira coisa a fazer para perceber as causas é conferir com urgência e de forma sistemática os factores críticos para a estabilidade biológica do sistema.
Checklist de pré-diagnóstico
- Verificar o funcionamento dos equipamentos (filtragem, aquecimento, etc)
- Verificar se a temperatura e a circulação da água estão normais
- Contar os peixes para ver se falta algum
- Testar os parâmetros da água
A verdade pura e dura é que nenhum aquariófilo, por muito especialista que seja, consegue perceber só de olhar para o tanque se o pH está a oscilar demasiado ou se os nitratos dispararam durante a noite, pois os valores desses parâmetros não podem ser observados, são necessários testes para serem determinados. Já os peixes, assim que notam um desvio nos parâmetros da água que os está a incomodar, denunciam-no logo por alterações na sua aparência ou no seu comportamento. Chegando a esse ponto, aí já estaremos perante um problema. Certo é que quanto mais precoce for a identificação dos sinais de que algo está errado melhores serão também as condições para o corrigirmos com mais facilidade. Passemos então a analisar os indicadores de desequilíbrios que os peixes nos costumam transmitir, começando precisamente pelo mais frustrante.
Indicador #1 - Encontrar um peixe morto no tanque
Deparar com um peixe morto pode não ser necessariamente sinal da existência de um problema, pois tal como sucede com todos os seres vivos os peixes morrem, seja por velhice ou outra causa qualquer. Mas não devemos nunca limitarmo-nos simplesmente a retirá-lo da água sem tentar investigar bem porque razão terá morrido. Um peixe morto equivale a dizer que é obrigatório verificarmos tudo no sistema com uma particular minúcia, a começar pelos equipamentos, para conferir se estão todos a funcionar correctamente, e a seguir os parâmetros da água, para ver se os valores estão correctos.
Se não houver nada de estranho a assinalar nessa inspecção inicial, devemos então vasculhar o tanque em busca de algo anómalo, como restos de comida não consumida, por exemplo, e observar os peixes um por um para ver se algum denota sinais de ter sofrido alguma agressão ou sintomas de doença. Mesmo que também não se detecte nada de anormal nesse exame é preciso manter uma vigilância apertada nos dias seguintes, para despistar comportamentos estranhos ou sinais de doença nos peixes. Infelizmente, na maior parte das vezes a morte de um peixe é um sinal da existência de problemas no tanque. Também por isto convém que façamos a contagem dos peixes regularmente, para confirmar se estão todos vivos e com saúde.
Indicador #2 - Alterações no comportamento ou aparência dos peixes
Por princípio, qualquer mudança significativa que se registe tanto no comportamento como na aparência dos peixes deve ser encarada como indício da existência de um problema, mesmo que essa alteração se restrinja a uma só espécie ou até a um único indivíduo. Os peixes podem acusar os problemas de maneiras diferentes, sendo que certas espécies são muito menos tolerantes a factores adversos do que as outras. Se um peixe de repente ficar sem cores, mais apático, ou se mantiver sempre escondido ou der sinais de estar assustado, é preciso observá-lo com muita atenção para perceber a causa. Tanto pode ser um problema de saúde como estar sob stress por ter um companheiro no tanque a molestá-lo e ele não ter condições físicas para se defender nem dispôr de esconderijos suficientes para se refugiar.
Em qualquer dos casos, é preciso agir para resolver o problema quanto antes. Se o problema tiver a ver com agressões isso até pode obrigar a ter de se remover o agressor, pois muitas vezes, ao verem-se privados da sua vítima favorita, os indivíduos com tendências mais agressivas começam rapidamente a incomodar outros. Caso os sinais estranhos sejam comuns aos membros de uma única espécie, deve-se começar por conferir se algum dos seus requisitos específicos não está a ser observado, designadamente algo que tenha a ver com o ambente ou com a sua dieta. Peixes que se recusem a comer, que se mostrem tímidos ou pouco activos, que denotem esbatimento ou mesmo perda de cores, que se esfreguem nos elementos paisagísticos do tanque, que revelem dificuldades para nadar (ou que ao invés nadem freneticamente em redor do tanque) ou ainda que "sacudam" as barbatanas e até dêem "esticões" para a frente, estão a dar sinais claros de que alguma coisa os está a incomodar.
Independentemente de muitos desses sinais até poderem ser sintomas de uma doença, sempre que um peixe apresente algum desses comportamentos podemos assumir desde logo que existe um problema no tanque e que é preciso descobrir a sua origem. Temos portanto de voltar a verificar os pontos da nossa checklist de pré-diagnóstico: verificar os equipamentos, observar se a temperatura e a circulação da água estão normais, testar os parâmetros da água, conferir a comida e inspeccionar cada um dos peixes em busca de sinais de doenças. Logo que a origem do problema seja descoberta temos de actuar para o resolver. Peixes sem apetite, com as barbatanas encolhidas, letárgicos, quietos no fundo, com as cores desbotadas ou com o corpo inchado são quase sempre indícios de problemas graves.
Indicador #3 - Peixes ofegantes a respirar junto à superfície
Optámos por separar este comportamento anormal do grupo anterior pelo simples facto dos transtornos na repiração dos peixes representarem objectivamente um sinal de grande perigo. Em qualquer tanque, quanto mais alto se subir na coluna de água maior passa também a ser a concentração de oxigénio dissolvido, sendo que o ponto onde se regista o nível mais elevado é precisamente junto à superfície, onde ocorrem as trocas gasosas. Como já sabemos, o calor aquece o ar e fá-lo expandir-se, forçando-o a subir e é por essa razão que a água quente contém sempre muito menos oxigénio dissolvido do que a água fria. Perante este facto, quando os peixes estão ofegantes e se mantêm sob a superfície da água, isso significa que estão mesmo desesperados e a tentarem obter oxigénio suficiente para não sufocarem. Numa situação destas é imprescindível actuar com a máxima urgência e não é preciso investigar muito para descobrir as possíveis causas do problema, pois ou a temperatura da água está demasiado alta, ou a qualidade da água se degradou de forma súbita e substancial ou estamos perante uma doença.
Verificar a temperatura é simples, pois basta olharmos para o termómetro. Se a temperatura estiver acima do limite suportado pelos peixes, o passo seguinte é vermos se o aquecimento está a funcionar correctamente e logo depois aumentarmos a ventilação da água ao máximo, quer através de uma troca de 30% da água com a introdução de água nova a uma temperatura mais fresca do que a do tanque (os peixes suportam bem uma descida na temperatura de até 2-3°C, consoante as espécies, sendo que muitas vezes até gostam da água nova mais fresca), quer ainda baixando o nível da água para que o fluxo de retorno do filtro caia em cascata e agite mais a superfície. Ou mesmo adicionando um outro filtro que reforce substancialmente a circulação e reponha na água a quantidade ideal de oxigénio dissolvido. Para quem vive em zonas onde é vulgar registarem picos de calor no Verão é boa ideia planear uma ventilação extra para evitar problemas deste género.
Se a temperatura estiver dentro do intervalo ideal, então o facto de os peixes estarem ofegantes e junto à superfície pode resultar da má qualidade da água, que se degradou subitamente por qualquer razão. Pode ser ou porque o filtro avariou ou entupiu e a água deixou de circular no tanque, ou porque morreu um peixe sem nós nos apercebermos que ficou a apodrecer e contaminou o ambiente, ou porque houve um desvio qualquer num parâmetro bioquímico que afectou o equilíbrio do ambiente e que até pode ter resultado das anteriores eventualidades. O primeiro passo é examinar visualmente se o filtro continua a funcionar, se não existe nada no tanque que esteja a degradar o equilíbrio e caso seja detectada alguma anomalia corrigi-la de imediato. O segundo passo é testar a água para confirmar os níveis de amónia (NH3) e de nitritos (NO2), pois se os valores destes dois parâmetros não estiverem a zero será preciso efectuar uma mudança imediata de 50% da água e continuar a fazer trocas de água significativas nos dias seguintes, até que desapareçam os vestígios de qualquer uma destas duas substâncias.
A síndrome do tanque recém-instalado
Pelo facto de tanto a amónia como os nitritos se contarem entre os problemas mais comuns nos tanques recém-instalados, costuma usar-se a expressão síndroma do tanque novo para referir a situação típica em que estes dois compostos atingem muito níveis elevados durante a "ciclagem". Infelizmente, a introdução de peixes no tanque nesta fase em que os níveis destas duas substâncias altamente tóxicas estão no seu auge é um dos "erros de principiante" mais comuns. Ao inserir os peixes nesse ambiente, mesmo seguindo à risca os conselhos para uma correcta aclimatação que foram dados pelo vendedor que o atendeu na loja, o aquariófilo inexperiente não faz ideia de está muito provavelmente a condenar os seus animais à morte. Se algum destes parâmetros estiver em níveis já bem detectáveis, bastarão poucos minutos para os peixes darem o alerta de que a água está com problemas, ficando ofegantes e vindo logo para junto da superfície.
Importa prestar muita atenção a este ponto em particular, porque os picos de amónia e de nitritos não ocorrem apenas nos tanques acabados de instalar. Tanto a amónia como os nitritos são tóxicos para os peixes e numa situação de desequilíbrio podem a todo o momento causar mortalidades muito elevadas na fauna de qualquer tanque "num abrir e fechar de olhos". Mesmo naqueles tanques que sempre estiveram equilibrados, pelo menos até este problema suceder. As grandes diferenças entre os dois compostos são:
• A amónia resulta da decomposição inicial de resíduos orgânicos como peixes, plantas ou folhas mortas pela actividade de certas bactérias nitrificantes e é altamente tóxica para a maioria da vida aquática, sendo muito mais tóxica quanto mais alto for o pH e a temperatura da água [+].
A toxicidade da amónia - Os níveis elevados de amónia são um dos piores pesadelos de qualquer aquariófilo e os envenenamentos ocorrem com especial frequência logo após a instalação de um novo tanque, embora possam também suceder num tanque estabelecido se o filtro falhar por alguma razão, seja por falta de energia, por um problema mecânico ou por entupimento. Havendo uma alteração súbita nas condições da água que conduza à falta de oxigenação, as colónias de bactérias aeróbicas começam rapidamente a morrer e surge um pico de amónia. Outros motivos frequentes para isto acontecer são a utilização de medicamentos com fortes propriedades anti-bacterianas ou mesmo o simples facto de serem adicionados em simultâneo muitos peixes ao aquário.
Como não se consegue perceber se a amónia está elevada mediante uma simples observação visual, a realização periódica de testes à água pode ajudar a detectar o aumento da concentração da amónia não-ionizada antes dela se transformar num problema sério. Em condições normais, os níveis de amónia devem ser inexistentes e ficarem abaixo de 0,1 mg/l (ppm), pois mesmo níveis desse valor já podem causar danos severos às brânquias nalgumas espécies. Quanto aos níveis mais altos, na ordem dos 0,2 mg/l (ppm), são quase sempre fatais para toda a fauna do tanque. Além disso, um envenenamento por amónia tanto pode acontecer de repente como prolongar-se de forma crescente durante um período de vários dias, sobretudo quando o pH do aquário sobe, compensando os efeitos do ciclo do nitrogénio. Porque na verdade a relação entre a amónia e o pH em ambientes fechados, como um aquário ou um lago, é um processo algo complexo.
Senão vejamos: enquanto o pH da água dos tanques é fortemente influenciado pelos compostos orgânicos e sais minerais inorgânicos nela dissolvidos, a amónia surge no sistema como subproduto natural dos dejectos dos peixes e da decomposição orgânica, sendo essencial um equilíbrio entre ambos para que a vida aquática se mantenha saudável. Basicamente, a amónia pura tem um pH ligeiramente alcalino, pelo que em teoria deveria contribuir para aumentar o pH de um tanque. Só que praticamente todos os processos no sistema que produzem amónia produzem igualmente catiões de hidrogénio. Ora como o pH é o log negativo da concentração de catiões de hidrogénio, o aumento desses catiões baixa o pH e anula o pH levemente básico da amónia. O resultado é que os mesmíssimos processos que criam a amónia no sistema também produzem iões de hidrogénio suficientes para superar a sua basicidade e diminuírem o pH.
Os processos biológicos como fontes de amónia
Em qualquer aquário ou lago as fontes permanentes de amónia são os diversos processos biológicos que ali ocorrem, sendo que na sua maioria se resumem a quebrar proteínas. No metabolismo dos peixes, por exemplo, os seus organismos decompõem as proteínas dos alimentos que ingeriram e produzem amónia tóxica como subproduto, que eliminam através da excreção. Ou seja, ao urinarem ou defecarem libertam essa amónia e iões de hidrogénio no sistema. O processo decorre de forma semelhante com as plantas putrefactas, a matéria de origem animal e a comida não consumida pelos peixes logo que entram em decomposição, sendo igualmente produzidos iões de amónia e de hidrogénio. Todavia, como a amónia é uma base fraca, o efeito mais forte no pH do meio ambiente vem dos iões de hidrogénio e o resultado final é que esses processos todos juntos reduzem o pH da água.
Só que num tanque saudável o ciclo do azoto não fica por aqui e as bactérias continuam a quebrar sucessivamente a amónia em formas menos tóxicas, transformando-a primeiro em nitritos e depois em nitratos. O que sucede é que esses vários grupos de bactérias vão também libertando ainda mais iões de hidrogénio ao longo do processo, o que reduz ainda mais o pH. Nos tanques acabados de instalar o ciclo demora normalmente várias semanas para se completar e o equilíbrio no sistema se estabelecer. Se não fosse assim, essa amónia tóxica continuaria a acumular-se até que a água se tornasse imprestável para a vida aquática. E como a actividade das bactérias e a evolução do ciclo são muito mais rápidas quanto mais alta for a temperatura, nos aquários tropicais também mais elevada é a quantidade da amónia produzida nesses processos, tornando-se igualmente mais tóxica com o aumento da temperatura.
Contudo, não são apenas os processos que criam amónia que afectam o pH, pois o próprio pH do sistema também pode influenciar a amónia e é precisamente por isso que num tanque com uma água ácida a influência da amónia é mais neutralizada, tornando-a assim menos tóxica para os peixes. Só que determinadas espécies de peixes, como os ciclídeos africanos e os peixes de água salgada, por exemplo, requerem que a água tenha um pH elevado e essas condições implicam geralmente que a água contenha também muitos minerais que estabilizem o pH, os chamados "tampões", sendo que nesses casos níveis mínimos de amónia já serão altamente tóxicos.
O zero como valor ideal para o nível de amónia
Posto isto, torna-se fácil de perceber porque é que a situação ideal é não haver nunca no sistema níveis de amónia detectáveis. Infelizmente, às vezes isso deixa de ser possível, quer porque subitamente passou a haver demasiada decomposição de matéria orgânica dentro do tanque, porque falhou a oxigenação e a ventilação do tanque ou até pelo facto da água da torneira que foi usada numa troca de água estar com níveis de amónia elevados. Assim que disparar a concentração de amónia, começou o problema e o sinal inicial dos peixes é ficarem ofegantes e virem logo para junto da superfície, à procura de ar. As brânquias deles ficam inflamadas e adquirem rapidamente uma cor de um vermelho vivo, como se estivessem a sangrar. Porque na realidade estão: a inflamação é tão aguda que esse afluxo excessivo de sangue rapidamente passa a hemorragia interna.
Os peixes perdem o apetite e ficam letárgicos, pois as suas funções corporais começam rapidamente a falhar. Deixam-se então cair no fundo do tanque, com as barbatanas encolhidas e a tentarem reduzir ao mínimo o metabolismo para sobreviverem, uma vez que não conseguem escapar da ameaça. À medida que os danos causados pela toxicidade da amónia forem continuando, os tecidos dos peixes começam a deteriorar-se, evidenciando manchas vermelhas de sangue no corpo e nas barbatanas. A etapa seguinte do envenenamento são os danos no cérebro, nos órgãos e no sistema nervoso central, pois os peixes já estão também a sangrar internamente. Estão na fase final do problema, que conduz inevitavelmente à sua morte. E se eles tiverem a sorte de se "safarem" os danos físicos serão substanciais.
Infelizmente, o aumento súbito da concentração de amónia no sistema pode ocorrer em diversas circunstâncias distintas, a começar logo pela água da torneira, que supostamente deveria ser insuspeita. Mas não é sempre insuspeita, muito pelo contrário. Muitas vezes as próprias empresas que fornecem a água canalizada utilizam uma substância química chamada cloramina, que consiste em cloro ligado à amónia, para efectuarem o tratamento da água, em particular quando os dias estão muito quentes. Só que ao contrário do cloro simples — que é um gás altamente volátil e se evapora com muita facilidade, demorando apenas entre 24 a 48 horas para desaparecer da água — a cloramina é um desinfectante muito mais estável, não só nos sistemas de água municipais como nos nossos tanques, onde pode permanecer com toda a facilidade durante uma semana antes de se dissipar.
A importância das medidas preventivas
Isto equivale a dizer que se usarmos directamente a água da torneira e ela tiver sido tratada com este produto químico temos a receita certa para um desastre no nosso pequeno ecossistema. Além de que parte deste problema reside no facto de as companhias da água não terem de avisar os utentes sobre a utilização da cloramina nos tratamentos. Posto isto, só resta uma única medida a adoptar por qualquer aquariófilo consciente e prevenido: utilizar um bom condicionador que neutralize simultaneamente o cloro, a cloramina e os metais pesados sempre que utilize a água da torneira. Aliás, existem hoje em dia até alguns condicionadores que neutralizam a amónia, mas se forem tomados todos os cuidados que aqui descrevemos isso não é indispensável. Pelo menos na nossa opinião, pese embora que «o seguro morreu de velho».
Além da normal decomposição de matéria orgânica que ocorre no sistema, como os excrementos dos peixes, as folhas mortas das plantas e os restos de comida que não foram consumidos, existem outros factores que podem levar à subida dos níveis de amónia nos tanques. Uma circulação errada da água que conduza à acumulação de detritos num ponto do aquário, uma sobrealimentação recorrente, bem como uma limpeza e manutenção deficientes favorecem a acumulação de bolsas de bactérias que prosperam a alimentarem-se de toda essa matéria supérflua, libertando ainda mais amónia como subproduto desses processos. Já agora, fique a saber que os peixes em pleno crescimento também contribuem mais para o aumento dos níveis de amónia nos tanques, pois além de comerem mais vezes por terem o metabolismo acelerado, depois de comerem os processos de construção de proteínas realizados no seu corpo para os ajudarem a crescer produzem mais amónia como subproduto. Como essa amónia não pode penetrar no seu sangue, tem de ser excretada através das guelras, o que resulta em mais amónia no sistema.
Num tanque novo, uma das melhores formas de prevenir envenenamentos por amónia é retirar uma parte do areão de outro que esteja saudável e bem estabelecido. Ou então espremer a esponja do filtro desse tanque para dentro da água do novo. Basicamente o que estaremos a fazer com isso é a inocular milhões de bactérias anaeróbicas que vão ajudar a fomentar o ciclo do azoto no novo sistema, mantendo os níveis de amónia e de nitritos controlados. Aliás, se for possível aproveitar parte da água envelhecida do sistema maduro e estabilizado para encher o novo tanque isso ainda será melhor, pois mais bactérias "boas" serão transferidas para o novo sistema, encurtando muito significativamente o prazo necessário para o ciclo se completar e reduzindo a quantidade de subprodutos tóxicos presentes na água.
Por outro lado, num tanque em que o sistema ainda esteja a iniciar-se nunca devemos adicionar mais do que um ou dois peixes até que ele esteja totalmente ciclado. Na verdade, mesmo nos aquários ou lagos estabelecidos também nunca devemos adicionar mais do que dois ou três peixes novos de cada vez, para evitar um excesso de carga num curto espaço de tempo. Outra precaução essencial para evitar um pico de amónia é dar sempre aos peixes quantidades pequenas de comida e remover de imediato todos os alimentos que não forem consumidos em 3-4 minutos. Ter o cuidado de limpar o tanque semanalmente, removendo restos mortos de plantas e outros detritos, bem como realizar uma troca parcial de 20 a 30% da água a cada duas semanas pelo menos — ou com ainda mais frequência nos tanques pequenos ou que estejam fortemente lotados — são outras formas eficazes de prevenir este tipo de problemas. E convém ter sempre o kit de testes à mão para os detectar cedo, antes que se tornem mais graves.
• Os nitritos resultam da transformação da amónia por outras bactérias nitrificantes e também são tóxicos para os peixes, sendo que também lhes causam danos irreparáveis em muitos órgãos internos [+].
A toxicidade dos nitritos - Os envenenamentos em resultado de um alto teor de nitritos são muito provavelmente a segunda causa de taxas elevadas de mortalidade nos tanques logo a seguir à amónia. Na realidade, sempre que um aquariófilo se depara com um pico de amónia e acha que já o conseguiu debelar, o mais provável é que poucos dias depois disso os níveis de nitritos também disparem e voltem a colocar os seus peixes em risco. Se os níveis de amónia estão ou estiveram recentemente elevados, é certo e seguro que o mesmo irá suceder com os nitritos. Isto tem simplesmente a ver com a ordem pela qual estas duas substâncias se acumulam em qualquer tanque, é algo directamente relacionado com a sequência da evolução do ciclo do azoto. Por isso torna-se essencial vigiar atentamente a evolução dos nitritos após quaisquer alterações no tanque que possam interferir com o seu equilíbrio bioquímico.
Entre as situações que exigem uma monitorização muito atenta da concentração de nitritos contam-se nomeadamente as semanas iniciais após a instalação de um novo tanque, os dias imediatamente a seguir a ser registada uma interrupção no regular funcionamento da filtragem, seja por falta de energia ou falha mecânica, bem como os dias após qualquer situação que possa interferir de forma relevante no equilíbrio biológico do sistema, seja porque houve a necessidade de medicar a água para tratar peixes doentes ou porque foram adicionados peixes novos ao tanque que já estava estabelecido. Os envenenamentos por nitritos são outro dos grandes "assassinos silenciosos" dos nossos peixes e além da sua toxicidade não ser tão letal quanto a da amónia, os sintomas deste problema ambiental também não são tão evidentes: o seu nível pode subir ao longo de dias sem que nós nos consigamos sequer aperceber disso.
Para tornar o diagnóstico ainda mais complicado, as diferentes espécies de peixes também toleram de formas muitos distintas os níveis elevados de nitritos. Não é invulgar vermos que algumas espécies de peixes continuam simplesmente indiferentes às alterações no meio enquanto outras começam a morrer de repente, sem sintomas óbvios de qualquer doença. Mas esses sinais estão lá, são-nos transmitidos pelos peixes, mesmo não sendo óbvios. O mais comum é o movimento das guelras mais acelerado do que o usual, a respiração ofegante e a falta de ar, com os peixes a adoptarem rapidamente a postura defensiva do costume, mantendo-se à superfície da água ou ficando perto das saídas de água, onde o fluxo é bem mais rápido e a oxigenação da água mais elevada. Aliás, se os observarmos com particular atenção, conseguiremos reparar numa mudança na cor das suas guelras, que deixam de estar com a tonalidade normal para ganharem um tom que vai de um castanho amarelado a um castanho escuro.
Consequências graves também a curto prazo
É por causa dessa cor castanha bem visível nas guelras que as intoxicações dos peixes por nitritos também são referidas como sendo a "doença do sangue castanho", pois o sangue deles fica castanho, como consequência do aumento da meta-hemoglobina. Só que essa situação causa um problema muito mais grave do que apenas escurecer a cor do sangue dos peixes. Por se tratar de uma forma de proteína da hemoglobina em que o estado químico do ferro presente no sangue impede a ligação do oxigénio, o excesso de meta-hemoglobina torna o sangue incapaz de transportar o oxigénio. Existe sempre uma pequena quantidade de meta-hemoglobina no sistema circulatório dos peixes, que aliás até é produzida espontaneamente, mas quando está presente em excesso o sangue ganha essa cor castanho azulada, anormalmente escura, sinal da escassez de oxigénio.
O resultado desse excesso de meta-hemoglobina no sangue é que o peixe pode literalmente sufocar, mesmo que a quantidade de oxigénio dissolvido presente na água seja mais do que suficiente. Todavia, caso sobrevivam ao problema, os peixes que fiquem expostos a nitritos na água por períodos longos, mesmo que os níveis sejam relativamente baixos, acabam invariavelmente por sofrer danos severos nos respectivos sistemas imunológicos, ficando muito mais propensos a apanharem doenças secundárias, como o íctio, o apodrecimento das barbatanas e até infecções bacterianas. À medida que os níveis de meta-hemoglobina no sangue deles forem aumentando, os danos vão afectar profundamente as suas brânquias, as células sanguíneas e o fígado. Se o problema não for rapidamente resolvido e de forma definitiva, os peixes afectados acabarão por morrer ou por falta de oxigénio. Ou pouco tempo depois, com as tais doenças secundárias.
Convém sublinhar que quando afirmamos que a toxicidade da amónia é muito mais letal do que a dos nitritos estamos a referir-nos apenas aos seus efeitos imediatos. A fiscalização dos níveis de nitritos não deve nunca ser subestimada, pois os nitritos são igualmente letais e isso sucede até em concentrações ainda mais baixas do que as da amónia. Portanto, há que reter dois factores críticos sobre este potencial problema: imediatamente a seguir a um pico de amónia num tanque temos de estar particularmente atentos à evolução dos nitritos e é sempre essencial realizarmos testes frequentes para determinarmos o seu estado, sendo imprescindível realizarmos tratamentos diários à água e trocas substanciais caso sejam detectados valores mínimos. E mantermos esse controlo até que os valores caiam para zero.
Tal como foi salientado relativamente à amónia, também no capítulo dos nitritos a prevenção é o melhor caminho, sendo que muitas das recomendações são precisamente as mesmas e visam tanto evitar "picos extremos" de nitritos como subidas resultantes de acumulações prolongadas. Adicionar poucos peixes ao tanque de cada vez e fazer isso de forma lenta e progressiva, ser sempre moderado com a alimentação dos peixes e ter o cuidado de remover os alimentos que não forem consumidos nos minutos seguintes, bem como fazer limpezas regulares de detritos e mudanças de água periódicas com alguma frequência, são tudo medidas que nos podem ajudar a prevenir dissabores neste campo. Tal como testarmos a água do tanque regularmente, para detectar os problemas precocemente. E sobretudo não nos esquecermos de que nas semanas iniciais após a instalação de um tanque vamos ter fases de níveis muito elevados de amónia e nitritos até que o sistema esteja ciclado. Se há coisas "fatais como o destino" esta é uma delas: depois de um pico de amónia vem sempre um pico de nitritos.
Ainda a propósito disto, existe outra situação igualmente recorrente que na nossa opinião é bem mais grave, que se prende com aqueles globos de vidro sem qualquer sistema de filtragem, usados como aquários para alojar um ou mesmo dois "peixinhos vermelhos", quase sempre Carassius auratus: por muitas trocas de água que sejam feitas, os efeitos nocivos na saúde dos peixes resultantes da acumulação de nitritos na água são inevitáveis. Basta não ser feita uma mudança de água durante dois ou três dias seguidos para vermos logo os peixes com a respiração acelerada e a terem de vir buscar oxigénio à superfície. Mesmo aqueles peixes que se conseguem aguentar nesses globos durante meses — ou até anos —, ao fim de pouco tempo apresentam as guelras de um castanho escuro, pese embora o facto dos Carassius auratus serem uma espécie com bastante tolerância a níveis altos de nitritos. À luz dos conhecimentos e da percepção que hoje temos sobre o bem-estar animal, utilizarem-se ainda globos de vidro como aquários é uma enormidade injustificável.
Os sintomas e as medidas correctivas imediatas
Resumindo, se os peixes apresentarem sinais de dificuldades em respirar embora tanto a temperatura como a oxigenação da água se mantenham normais, é imperioso começarmos urgentemente por testar os valores da amónia e dos nitritos. E perante leituras positivas adoptar medidas correctivas o mais depressa possível, antes que escalem para níveis letais. Aprender a detectar precocemente sinais de desvios nestes dois parâmetros é algo crítico para qualquer aquariófilo, embora existam outros parâmetros da água que se estiverem também muito desajustados podem igualmente originar problemas no sistema a curto prazo.
Estado da água | Nível de NH3 em mg/l (ppm) | |
---|---|---|
Desde | Até | |
Seguro | 0 | 0,20 |
Alerta | 0,20 | 0,50 |
Alarme | 0,50 | 2,0 |
Tóxico | 2,0 | 5,0 |
Mortal | > 5,0 | |
Nota: |
Posto isto, passamos a sintetizar alguns dos sintomas mais comuns de desequilíbrios nos parâmetros da água:
- Sintomas de um pico de amónia - Os peixes mostram-se muito letárgicos, sem apetite e deixam-se a pairar no fundo do tanque com pouco ou nenhum movimento, mesmo as espécies de superfície. Ou então ficam a ofegar junto à linha da água, demonstrando dificuldade em respirar. As suas brânquias ganham um tom avermelhado, sinal claro de que as guelras estão inflamadas. As bases e raios das barbatanas, tal como os olhos e até o ânus também podem ficar inflamados. Todos esses sinais indicam que os níveis de amónia os estão a intoxicar, pelo que se tem de testar a água de imediato.
Se for detectado um valor acima de 1 mg/l (ppm) o problema tem de ser urgentemente atenuado com uma mudança substancial da água (de 50%, no mínimo) à mesma temperatura para evitar que a amónia suba rapidamente para níveis letais. Às vezes podem ser necessárias várias mudanças de água semelhantes num curto espaço de tempo para reduzir a amónia para valores inferiores a 0,2 mg/l (ppm). Caso isso se verifique, podem-se aproveitar essas trocas de água para se ir progressivamente baixando também o pH, pois isso contribuirá para reduzir a toxicidade da amónia.
Se os peixes estiverem gravemente afectados, o melhor é utilizar um produto químico para neutralizar a amónia, sendo que esses produtos na sua maioria funcionam também por ajustes do pH. Dependendo do estado dos peixes, a quantidade de comida deve ser significativamente reduzida ou mesmo descontinuar todas as refeições durante vários dias. Escusado será salientar que nessa situação não deve nunca ser adicionado nenhum peixe novo ao tanque até que os níveis de amónia voltem a estar a zero. - Sintomas de intoxicação por nitritos - Os peixes mostram-se apáticos e mantêm-se à tona de água, tentando respirar ar directamente da superfície, em golfadas, movimentando as guelras rapidamente e com a respiração acelerada, ou então permanecem junto das saídas de água dos filtros, onde a água é mais fortemente oxigenada. Os sinais comportamentais até podem aparentar semelhanças com aqueles que se verificam num pico de amónia porque ambos os casos são intoxicações. Todavia, quando o problema são níveis altos de nitritos as brânquias dos peixes ficam de um acastanhado mais escuro.
Num aquário saudável, a concentração de nitritos deve estar a zero. Se a leitura deste parâmentro indicar uma concentração acima dos 0,5 mg/l (ppm) é sinal de que estamos perante uma intoxicação por nitritos e que temos de iniciar imediatamente o tratamento da água. Nesta situação o primeiro passo é sempre uma grande mudança de água, de 50% no mínimo, seguindo-se o aumento da ventilação do tanque ao máximo, com vista a conseguir uma saturação de oxigénio dissolvido na água. Também a quantidade de comida deve ser significativamente reduzida até que os níveis de nitritos baixem para um valor seguro e não deve ser adicionado nenhum peixe novo antes dos valores caírem para zero.
Se as espécies existentes no tanque tolerarem sal, pode-se adicionar 2 colheres de sopa de sal marinho (cloreto de sódio) por cada 100 litros de água, aguardar 2 ou 3 horas e voltar a repetir a dose uma segunda vez. É um tratamento de choque, mas o sal tem a vantagem de actuar como um inibidor da formação da meta-hemoglobina (está provado que 1 colher de sopa de sal em 5 litros de água impede a formação da meta-hemoglobina). Atenção porém que o sal deve ser sal marinho puro, daquele grosso, nunca sal de mesa refinado, pois não pode conter quaisquer aditivos. - Sintomas de irritação por pH e durezas errados - Os peixes mostram-se ofegantes e movimentam as brânquias depressa, esfregam a zona da cabeça nos objectos, lançam-se de repente para a frente ou então sacodem vigorosamente as barbatanas, denunciando que há alguma coisa na água que os está a irritar. Todos estes sinais podem ser causados por níveis de pH ou mesmo de dureza inadequados. Se os peixes começarem a apresentar os extremos das barbatanas desgastadas, tiverem dificuldade em fechar feridas, não mostrem interesse em desovar ou se surgirem depósitos esbranquiçados junto à linha da superfície da água ou no equipamento de filtragem, isso são motivos para suspeitar de que o pH está demasiado alto ou a subir demasiado no aquário. Se ao invés isso não for visível e os peixes às vezes derem "esticões", tipo arranques repentinos, a dureza da água pode estar em valores desajustados para a sua espécie.
Para despistar esta causa, deve-se uma vez mais recorrer aos testes e verificar os níveis destes parâmetros. Se as leituras confirmarem que é preciso corrigi-los, essas alterações terão de ser feitas de forma lenta e progressiva, para não causar nenhum choque aos peixes. As intervenções serão completamente distintas consoante seja preciso reduzir ou subir o pH e a dureza. Muitas vezes os sinais que os peixes transmitem sobre o facto de a qualidade da água não lhes estar a agradar são confundidos com doenças, embora não seja sempre esse o caso. Nessas situações os testes são uma das melhores ferramentas para nos ajudarem a fazer o despiste. De qualquer forma, neste tipo de casos impõe-se igualmente uma observação muito minuciosa dos animais que demonstrem esses comportamentos. Tal como a subsequente correcção dos parâmetros, como é evidente. - Sintomas de intoxicação por cloro - Muitas vezes, o facto de os peixes estarem a respirar rápido e de fazerem "arranques" súbitos, disparando em velocidade para a frente pode ser também um indicador da existência de cloro residual na água do tanque, sobretudo se tiver sido realizada uma troca substancial de água há menos de uma semana sem que tenha sido aplicado um bom condicionador à água nova. Como já foi referido, a utilização de um condicionador é essencial para ajudar a neutralizar o cloro e a cloramina, pois estas duas substância são desinfectantes e têm propriedades anti-bacterianas, pelo que até podem interferir nas colónias de bactérias que asseguram o equilíbrio biológico.
Estes mesmos sintomas podem aliás observar-se igualmente com intoxicações por cloramina, sendo que neste último caso as brânquias podem ganhar também uma cor acastanhada e os sintomas serem até parecidos com os de uma intoxicação por excesso de nitritos. A razão é que a cloramina também inibe que haja um transporte eficiente de oxigénio pelo sangue. Em ambos os cenários, seja por cloro ou cloramina, os peixes costumam geralmente perder o apetite, deixarem de comer, escondenderem-se e demonstrarem um desconforto geral, indicando uma fraca qualidade da água.
Tanto o cloro como a cloramina agridem com severidade os tecidos da pele dos peixes, designadamente as brânquias, afectando a sua normal respiração. Caso a quantidade de cloro presente na água seja bastante elevada, é também frequente vermos os peixes e produzirem muito mais muco protector do que é habitual, para se defenderem do agente irritante. Por vezes chegam até a ficar com a membrana exterior da córnea nublada, como se os olhos tivessem sido "queimados" por uma substância abrasiva (este sinal é frequente após uma intoxicação por cloramina). - Sintomas de intoxicação por excesso de gás - Por último, se os peixes apresentarem pequenas bolhas de gás nas brânquias, nas barbatanas e nos olhos isso significa que existe uma supersaturação de gás na água que lhes está a danificar os tecidos. Esta situação surge mais frequentemente após uma mudança de água que foi mal concretizada (água nova mais quente e com demasiada pressão) e embora seja correntemente referida como a "doença das bolhas de gás" não é uma doença, mas sim uma condição da água. Incluímo-la neste grupo de sintomas porque apesar de muitas vezes o gás em excesso na água ser oxigénio, o efeito imediato é que os peixes ficam também ofegantes e demonstram dificuldades em respirar.
A razão disso é simples: o gás em excesso afecta-lhes as brânquias e isso impede-os de respirarem normalmente. Esses gases entram rapidamente na corrente sanguínea do peixe e imediatamente depois começam a acumular-se pequenas bolhas sob os tecidos do seu corpo. Se essas lesões forem muito extensas levam à morte dos peixes afectados. As causas que originam este problema têm sempre a ver com um aumento repentino na temperatura da água ou um aumento súbito da pressão, fazendo com que a água do tanque fique rapidamente supersaturada com gases. Ao ser aquecida de forma súbita, a água do tanque liberta e retém simultaneamente os gases, ficando assim supersaturada.
Este fenómeno acontece mais frequentemente nos lagos, mas também não é incomum suceder nos aquários. Quando a água do lago ou do tanque está mais fria e é trocada por água da torneira ou de um poço com recurso a uma mangueira submersa, a conjunção entre as diferenças de temperatura e de pressão da água nova face à água do tanque provoca frequentemente este efeito. Como os peixes são seres de sangue frio, a temperatura do seu corpo depende em absoluto da temperatura do ambiente, pelo que as condições da água em que vivem têm um impacto directo na sua homeostase e na sua corrente sanguínea. Se houver uma supersaturação de gases na água eles vão absorvê-los de imediato, criando-se uma situação típica da "doença das bolhas de gás".
A única forma eficaz de evitar o problema é através da prevenção: para impedir que os peixes fiquem afectados pela "doença das bolhas de gás" deve-se deixar que a água que se vai utilizar para a reposição aqueça muito lentamente quando se está a adicioná-la ao lago ou ao aquário. Além disso, não se deve nunca mergulhar a mangueira no tanque durante o enchimento mas sim pulverizar a água por cima da superfície, pois isso facilitará a libertação no ar da maioria dos gases sob pressão que vêm misturados na água, impedindo-os de causarem danos aos peixes.
Se eventualmente as leituras dos testes aos parâmetros da água indicarem que todos os valores estão correctos e mesmo assim os peixes continuarem a dar sinais de uma respiração acelerada e de precisarem de mais oxigénio, muito provavelmente a causa será uma doença. Não é invulgar surgir uma doença contagiosa que acabe por afectar praticamente todos os peixes de um tanque. As infestações por ectoparasitas, desde o ícto até aos parasitas monogenéticos que costumam fixar-se nas guelras dos hospedeiros, só para apontar dois exemplos, contam-se entre as doenças que originam este tipo de sintomas.
Assim sendo, o passo seguinte é verificar se existem sinais visíveis de infecção nos peixes, incluindo de doenças secundárias, como feridas, inchaços ou fungos. Muitas vezes os sintomas de um problema com a qualidade da água e de uma doença são muito semelhantes entre si — as barbatanas fechadas, por exemplo, são um sintoma comum a ambas as situações — e os problemas no meio ambiente até podem espoletar as doenças, fazendo com que seja difícil diferenciar as situações.
Nota: caso não seja detectado nenhum sinal de doença e os peixes apresentem sinais de respiração acelerada e de falta de oxigénio, se o tanque estiver muito densamente plantado a origem do problema pode até estar nas próprias plantas aquáticas. Não é invulgar vermos esse fenómeno ocorrer em tanques fortemente plantados, sobretudo ao início da manhã, altura em que a concentração de oxigénio na água é mais baixa pelo facto de as plantas terem esgotado o oxigénio a respirarem durante a noite anterior. Se os peixes se mostrarem ofegantes e se mantenham na superfície do aquário apenas pela manhã, uma causa provável é a respiração das plantas durante a noite. Aliás, outro problema potencial que muitas vezes se verifica em tanques densamente plantados onde é constantemente adicionado muito CO2 são os baixos níveis de oxigénio dissolvido na água, que obrigam a que nesses tanques se mantenham apenas espécies de dimensões reduzidas e pouca quantidade de peixes.
Indicador #4 - Água nublada, turva ou leitosa
O facto de a água de um tanque não estar absolutamente cristalina ou até apresentar alguma cor — seja ela branca, acinzentada, amarelada ou mesmo um castanho muito escuro, quase cor de chá — não quer dizer que haja necessariamente motivos para alarme. Muitas vezes isso resulta de fenómenos perfeitamente naturais e a situação é quase sempre muito fácil de corrigir, seja aguardando mais tempo para o sistema estabilizar por si próprio ou através das trocas de água que forem feitas posteriormente, enquadradas na manutenção regular do sistema. Todavia, a turbidez da água, em particular se for acompanhada de um cheiro desagradável, pode indicar um problema que precisa de ser resolvido. Vamos partir do princípio de que a capacidade do filtro é adequada às dimensões do tanque e que também já verificou se está a funcionar devidamente e não está entupido. Assim sendo, sobram três causas como as mais prováveis para a água estar turva: ou o substrato não foi devidamente lavado, ou existem substâncias estranhas dissolvidas na água ou estamos perante uma explosão de bactérias.
Vamos começar pelo substrato. Se não tiver sido convenientemente lavado antes de ser posto no tanque a água nublada ou turva é o resultado natural do excesso de partículas em suspensão, mas na realidade não se trata de nenhum problema preocupante, pois isso acabará por ficar resolvido após algumas trocas na água. O problema só se colocará se tiver sido tão mal lavado que tenha trazido matéria suficiente para criar bolsas de detritos no fundo do aquário que possam criar pontos anóxicos. Ou então conter ovos dos chamados "vermes dos detritos", que proliferam sobretudo em aquários mal mantidos. Se o problema eventualmente atingir essa dimensão, além do efeito ser muito inestético pode ser posta em causa a preservação da higiene e o equilíbrio biológico do sistema, bem como o risco de surgirem várias consequências colaterais indesejadas na saúde dos peixes a curto prazo, pois muitos desses vermes são hospedeiros intermédios no ciclo de desenvolvimento de inúmeros parasitas. Será então aconselhável esvaziar totalmente o tanque, lavar novamente muito bem o substrato e começar tudo de novo.
Se a turbidez resultar da presença de substâncias dissolvidas na água que lhe possam dar um aspecto leitoso, isso geralmente significa que há algo que se foi acumulando em excesso no sistema ou que até pode estar a ser introduzido com a água da torneira. Entre as causas mais prováveis pode estar um pH demasiado básico, níveis elevados de nitratos ou fosfatos na água ou mesmo metais pesados que vieram por arrasto com a água da torneira. O pH já vimos como pode ser corrigido. Os nitratos e os fosfatos têm a enorme desvantagem de potenciarem a presença e o desenvolvimento de algas e de poderem inibir igualmente o normal crescimento dos peixes e as desovas, mas também se removem facilmente com mudanças de água parciais. Quanto aos metais pesados, que até podem estar nas canalizações domésticas das casas, podem ser anulados na maioria dos casos com a aplicação de um bom condicionador antes de adicionar a água da torneira ao aquário. Posto isto, todos estes problemas que podem afectar a limpidez da água são de simples resolução.
Já as explosões de bactérias como causa de turvação da coluna de água podem não ser um problema assim tão simples de contornar, representando até muitas vezes motivo para preocupação. Embora na maior parte das vezes sejam completamente inofensivas e até se enquadrem como algo natural durante a fase de ciclagem do tanque, em determinadas situações indicam que houve um desequilíbrio no sistema. Nesse caso surgem como resultado de um excesso de alimentação ou da decomposição de muita matéria vegetal, como plantas ou folhas mortas, o que equivale a falar de potenciais alterações negativas nas colónias de bactérias benéficas. O primeiro passo é testar a água para determinar se os níveis de amónia, nitritos e nitratos estão nos valores adequados. Se houver um pico em qualquer um desses parâmetros, impõem-se imediatamente as trocas de água da praxe e o corte significativo nas dosagens de alimento aos peixes.
As explosões de bactérias heterotróficas
Se o problema da turbidez evoluir muito rapidamente e for realmente persistente e agudo, então há que averiguar bem o que provocou o desequilíbrio, em particular confirmar se os nitratos e os fosfatos estão a ser efectivamente reduzidos com as mudanças de água, se não continua a haver na água demasiada matéria em suspensão e até verificar se o tanque não estará eventualmente sobrepovoado. Um fenómeno que frequentes vezes surge associado a qualquer uma destas causas é a chamada "floração bacteriana", uma condição em que ocorre uma explosão súbita daquelas colónias de bactérias heterotróficas que vivem suspensas na coluna de água, as quais começam a multiplicar-se tão rapidamente que o seu conjunto forma uma nuvem visível a olho nu, tornando a água turva e dando-lhe uma aparência leitosa. Às vezes esta explosão é tão intensa que em muito pouco tempo a água fica tão turva que quase nem se conseguem ver os peixes.
Embora ocorra com muito mais frequência nos tanques recém-instalados, essa "floração bacteriana" pode igualmente surgir se houver um aumento muito rápido dos nutrientes disponíveis na água, mesmo que não sejam nitratos e fosfatos. Basta acontecer que um peixe ou uma planta morram, que isso passe despercebido e não sejam logo removidos, para se converterem num instante em nutrientes para as bactérias heterotróficas usarem e proliferarem. Recorde-se que estas bactérias não são capazes de sintetizar o seu próprio alimento e dependem de substâncias orgânicas complexas para a sua nutrição. São as bactérias heterotróficas presentes nos tanques que mineralizam os resíduos orgânicos usando a matéria animal e vegetal morta e como são bem maiores do que as autotróficas não conseguem fixar-se às superfícies com a mesma facilidade, mantendo-se em suspensão na coluna de água. Além disso, também conseguem reproduzir-se com muito mais rapidez, pois multiplicam-se em 15-20 minutos, enquanto as bactérias autotróficas, como as bactérias "boas" que vivem nos filtros, por exemplo, podem levar até 24 horas para se reproduzirem.
As bactérias heterotróficas são as grandes responsáveis pela criação do "biofilme", nome atribuído à película ligeiramente viscosa que geralmente se acumula nos vidros e nos elementos paisagísticos dos aquários. Esse fenómeno é mais corrente nos aquários recém-montados pelo simples facto dos organismos heterótrofos se desenvolverem muito mais depressa que os autotróficos. Assim que o cloro sai da água, as populações destas bactérias aproveitam logo para se multiplicar e a intensidade da sua floração só depende da quantidade de matéria orgânica contida na água. Só que existe outro aspecto extremamente negativo que contribui para que as explosões destas bactérias sejam um problema real, que nada tem a ver com a vertente inestética: quando elas florescem na coluna de água mudam o seu estado para aeróbico e começam a drenar o oxigénio existente na água, podendo começar a privar os peixes de oxigénio. Aliás, esse é o único risco para eles durante esta fase da floração bacteriana, já que essas bactérias em si são inofensivas para os peixes.
Agentes causadores de picos de amónia e eutrofização
Porém, como já vimos, num ambiente fechado uma alteração significativa numa variável bioquímica pode desencadear — e por regra desencadeia — uma série de reacções em cadeia. Privados de oxigénio, os peixes começam a ofegar e a procurarem mais ar na superfície da água. Ora como a floração bacteriana ocorreu como consequência de um factor qualquer que estimulou a reprodução dessas bactérias, sejam os restos dos alimentos não consumidos, a morte de um peixe ou o excesso de matéria vegetal morta, ao quebrarem esses resíduos orgânicos elas reproduzem-se ainda mais depressa e retiram ainda mais oxigénio da água. Com esse aumento da mineralização também aumenta a produção de amónia, como é evidente. Só que os organismos nitrificantes demoram mais tempo a reagir, a multiplicarem-se, pelo que não é preciso muito para se verificar num instante um pico de amónia. Ou seja, totalmente ao contrário do que muita gente supõe, estas explosões de bactérias heterotróficas originam picos de amónia e não o oposto. Nos lagos, por exemplo, estão muito frequentemente na origem dos casos de eutrofização.
Não deixa de ser curioso constatar como muitos aquariófilos experientes preconizam métodos bastante diferentes para controlar as explosões deste tipo de bactérias quando elas florescem na coluna de água. Há quem defenda a aplicação de produtos químicos, outros são apologistas dos filtros por radiação ultravioleta (os chamados filtos UV), etc. Certo é que resolver o problema da nebulosidade causada por estas bactérias exige sempre que sejam inspeccionados os suspeitos do costume. A começar por olhar bem para o filtro e ver se as matérias filtrantes não estarão saturadas, sobretudo se existirem muitos peixes no tanque ou se forem espécies que produzem muitos resíduos, como uma boa parte dos ciclídeos, por exemplo. Uma medida que costuma ajudar a aliviar o problema e a evitar que se repita é a limpeza do excesso de lodo que se acumula no filtro, em particular nas esponjas, na fibra de vidro e em torno do propulsor. Nos filtros externos a limpeza das mangueiras também é muitas vezes negligenciada, mas a verdade é que a remoção com um escovilhão do lodo que nelas se acumula pode contribuir para uma recuperação substancial do fluxo de água.
Depois de revista a filtragem, voltamos à rotineira mudança de pelo menos 50% da água, acompanhada de uma aspiração do substrato, bem como pela implementação de um regime bem espartano na alimentação dos peixes, sendo que a todas estas medidas higiénicas se devem juntar os imprescindíveis testes à água. O foco disto é essencialmente reduzir a quantidade de deperdícios orgânicos presentes na água para cortar a fonte de nutrientes deste tipo de bactérias e impedir que a amónia e os nitritos subam para níveis detectáveis, o que apresentaria um novo problema. Caso a água mantenha um cheiro desagradável, podem ser necessárias mais algumas mudanças de água até que se consiga resolver o problema. Todavia, essa remoção do cheiro da água pode ser acelerada adicionando uma colher de chá de "Epsom salt" (sulfato de magnésio) por cada 100 litros de água ou através da filtragem química com recurso a carvão activado, por exemplo.
Indicador #5 - Água esverdeada, cianobactérias, algas filamentosas e vermes
Entre os outros problemas mais comuns nos aquários e lagos contam-se a água começar a ficar esverdeada, o aparecimento e multiplicação de algas filamentosas sobre os elementos paisagísticos, incluindo no substrato, e ainda depararmos com vários tipos de vermes no sistema, seja arrastando-se nos vidros ou a movimentarem-se na água. Todos estes problemas são bastante frequentes e todos eles apontam desde logo para uma causa comum: sobrealimentação. Pode haver outros factores coadjuvantes para a água esverdeada e as algas, mas o denominador comum é a acumulação de resíduos orgânicos. E embora na maioria das vezes estes problemas não representem uma ameaça imediata para os peixes, todos indicam que existe algo errado com a qualidade da água. E isso tem de ser corrigido sob pena de vir a tornar-se perigoso com o decurso do tempo, pois mesmo que na fase inicial as condições não estejam tão más quanto o aspecto da água leva a supôr, as alterações que decorrem desses problemas podem degradar o meio ambiente num lapso temporal bastante curto.
Vamos então analisar o problema da água esverdeada. Na origem dessa cor estão uma vez mais inúmeras minúsculas algas em suspensão na coluna de água, que se multiplicaram tanto e tão depressa que formaram uma nuvem que parece tingir a água de verde. Grande parte dessas algas até constituem fitoplâncton, aqueles organismos aquáticos microscópicos com capacidade fotossintética que vivem dispersos nos tanques. A cor verde da água resulta do excesso dessas algas a flutuar, sendo um fenómeno que até se verifica com alguma frequência nos lagos quando ainda não estão totalmente estabilizados, em particular no início da Primavera, quando os dias começam a ser mais longos e a quantidade de luz que incide directamente na água aumenta. Todavia, não é uma condição exclusiva dos lagos e pode perfeitamente ocorrer num aquário. A causa primária do problema é sempre o excesso de nutrientes presentes no tanque, situação que geralmente decorre de uma fraca manutenção do sistema ou de excessos na alimentação dos peixes.
No caso dos lagos, como são sistemas semi-abertos, esses nutrientes podem até ser de origem vegetal e terem origem em folhas em decomposição que foram arrastadas pelo vento para dentro da água. Se esses nutrientes estiverem lá, em particular sob a forma de nitratos ou fosfatos, mas faltar luz em quantidade suficiente para as algas os processarem, os sintomas de desequilíbrio da água até podem passar despercebidos. Os esporos das algas estão lá, mas estão num estado latente. Tanto podem estar nas plantas, como nos peixes, incluindo nos intestinos dos alevins, e até na coluna de água, só que conseguem permanecer nesse estado por um período de tempo muito longo, à espera das condições certas para poderem florescer. Quando isso finalmente sucede, as algas explodem e tomam literalmente conta do tanque: as paredes do tanque, sejam elas os vidros de um aquário ou as margens dos lagos, bem como os elementos decorativos ficam cobertos de algas, a água fica cada vez mais nublada, a luz deixa de chegar às plantas impedindo-as de realizarem a fotossíntese e por vezes até os próprios filtros entopem. Nos aquários de água salgada podem até surgir algas que libertam toxinas. É raro isso suceder, mas existem registos de já ter acontecido.
Multiplicação de organismos unicelulares tóxicos
Tudo isto pode suceder em poucos dias, o que provoca um severo desequilíbrio na carga biológica do tanque. Aliás, não é raro vermos estas algas a cobrirem praticamente na totalidade as folhas das plantas, impedindo-as de produzirem clorofila e de realizarem o seu metabolismo, asfixiando-as e conduzindo-as à morte. Este tipo de algas são organismos extremamente oportunistas e até há alguns anos eram considerados plantas, mas a sua classificação mudou para passarem a ser catalogados como protistas, um grupo de seres vivos que não se enquadram nas categorias dos animais, plantas ou fungos e que inclui igualmente vários outros protozoários unicelulares, como as amebas e as paramécias, por exemplo. Os protistas são portanto seres unicelulares, que formam colónias de células e se reproduzem assexuadamente por mitose, ou seja, pela divisão da sua célula em duas. Perante isto, torna-se fácil perceber por que é que a ocorrência deste problema no tanque pode escalar rapidamente de algo que se afigura como um simples pormenor sobretudo desagradável na aparência para um desequilíbrio real, que rapidamente fica fora de controlo.
Então qual é a forma mais rápida de nos vermos livres do problema? Há pouco vimos que muitos aquariófilos defendem que a melhor forma de erradicar os seres unicelulares indesejados é utilizar um filtro UV, pois as algas em supensão são arrastadas para o filtro e ao serem submetidas à radiação ultra-violeta esta destrói-lhes a célula. O método é de facto eficaz, mas apresenta uma grande desvantagem: só consegue eliminar as algas em supensão. As colónias de algas que se encontrem fixadas sobre as superfícies do tanque e nos elementos paisagísticos mantêm-se incólumes. Ora é precisamente entre estas últimas que se conta um grupo de algas verdes e azuladas particularmente agressivas, que se desenvolvem a um ritmo impressionante e conseguem cobrir praticamente todas as superfícies do tanque em muito pouco tempo: estamos a falar das famigeradas cianobactérias, que além de poderem ser tóxicas para os peixes se forem ingeridas são igualmente capazes de reduzir fortmente o oxigénio da água, fazendo com que os seus níveis caiam para valores insustentáveis para os restantes organismos vivos presentes no sistema.
Não é costume vermos peixes a morrerem por terem tentado comer as cianobactérias tóxicas. Nem sequer aqueles peixes a que vulgarmente chamamos "limpa-vidros", precisamente por serem devoradores de algas, lhes tocam. Porque na realidade as cianobactérias não são algas. Como se juntam para formar uma película viscosa de um verde azulado intenso têm uma aparência semelhante a algas, mas basta retirar um bocado dessa película — quando apanhamos um bocado, elas saem em lamelas — e cheirá-la para se perceber que tem um odor desagradável, um cheiro a podre, muito semelhante ao cheiro dos pântanos. As cianobactérias são organismos que estão algures entre as algas e as bactérias e o seu desenvolvimento excessivo ocorre quase sempre quando existem níveis elevados de resíduos e de nutrientes na água, como os nitratos e os fosfatos, em particular estes últimos. Quando se dá uma explosão de cianobactérias mesmo muito forte, é frequente vermos a formação de uma espuma na superfície da água e as películas de algumas colónias ficam tão densas e espessas que até ganham uma tonalidade castanha escura, avermelhada ou mesmo preta.
Como já vimos, além do excesso de alimentos não consumidos pelos peixes, a quantidade muito elevada de nutrientes e resíduos dissolvidos é outra das causas mais frequentes. Precisamente por isso, como também já foi referido, o ideal é ser sempre comedido na alimentação e cumprir um plano de manutenção regular, com mudanças de água frequentes. Se anularmos desde logo estes dois factores, caso por alguma razão haja um excesso de luz, designadamente luz solar directa, as cianobactérias que eventualmente tenham sido introduzidas no tanque não terão condições para prosperarem. Contudo, pode haver outras situações em que isto não é assim tão linear, pois nos tanques novos em que as colónias de bactérias benéficas ainda não se estabeleceram o fenómeno também se pode verificar. Na realidade, como as cianobactérias também conseguem fixar os seus próprios níveis de azoto até podem surgir num aquário maduro bem conservado, bastando para isso que falhe a energia, a circulação da água seja interrompida e surjam condições anaeróbicas, só para apontar um exemplo.
A parte complicada de resolver um problema de cianobactérias é que depois de estabelecidas são difíceis de erradicar. As primeiras medidas a tomar passam por reduzir os nutrientes delas através de uma troca de água de 50%, suspender a alimentação dos peixes e desligar as luzes do tanque durante 3 dias no mínimo, sendo até o ideal tapá-lo completamente. Há quem sugira que seja feita a remoção directa das próprias colónias de algas, raspando as superfícies, esfregando os elementos decorativos, limpando bem as folhas das plantas e aspirando criteriosamente o substrato. A realidade é que esses esforços apenas permitem reduzi-las, pois não elimiminam os esporos, sendo que em condições muito graves costuma ser necessário repetir tudo isso várias vezes. Antes de voltar a ligar as luzes deve-se realizar outra troca parcial de água de 25%. Infelizmente é rara a resolução definitiva do problema, sendo que as cianobactérias podem voltar a explodir se não forem corrigidas as causas que as favorecem. Estando os esporos presentes na água, essa ameaça acaba por se manter latente. Em nossa opinião, o tratamento mais eficaz passa pela aplicação de um antibiótico à base de eritromicina, só que isso envolve o risco de serem também afectadas as bactérias benéficas e obriga a uma monitorização apertada da amónia e dos nitritos no sistema durante as semanas seguintes.
Brevemente a continuação...