Pesquisa

GPS ajuda a encontrar local exacto

Definida a nascente do Amazonas

O «Symphysodon aequifasciatus aequifasciatus» vive no Amazonas

Uma expedição de cientistas de cinco países acaba de confirmar a localização exacta da principal nascente do Amazonas, uma questão que até à data sempre tinha gerado polémica entre a comunidade científica: as águas do Amazonas, o segundo maior rio do mundo depois do Nilo, têm a sua origem numa nascente situada nas montanhas dos Andes, no Sul do Peru, mais precisamente numa encosta de uma montanha denominada Nevado Mismi, que tem 5597 metros de altitude.

 

Para poder chegar a esta conclusão, a equipa de exploradores — que trabalhou por iniciativa e com financiamentos da prestigiada National Geographic Society —, revelou ter-se socorrido da tecnologia GPS (Global Positioning System), uma tecnologia de navegação e localização por satélite que permite obter resultados com uma precisão estontante e que tem registado grandes desenvolvimentos ao longo dos anos mais recentes.

 

Só por curiosidade, refira-se que o método de localização utilizado pela tecnologia GPS funciona com base na triangulação, um pouco à semelhança dos métodos utilizados pelos antigos navegadores. Estes calculavam a sua posição exacta em alto mar observando as estrelas e tomavam-nas como pontos de referência para fazerem triangulações, um sistema que esteve na origem da criação, pelos portugueses, do sextante.

 

O resultado desta expedição, segundo os responsáveis da equipa de cientistas, traduziu-se na obtenção de «um mapa muito preciso da bacia hidrográfica do Amazonas, e a determinação concreta da sua nascente». Andrew Pietowski, o professor de matemática da Universidade de Carmel, em Nova Iorque, que liderou a equipa e se encarregou pessoalmente da componente dos cálculos para o levantamento geográfico, confessou ter ficado encantado por participar na expedição, apesar das dificuldades encontradas.

 

Contratempos a jusante

 

De facto, a equipa sofreu muitos contratempos à medida que avançava no terreno em direcção a jusante, designadamente ao entrar na área montanhosa da cordilheira andina; aí, tiveram de enfrentr ventos fortíssimos e temperaturas abaixo de zero, além de terem encontrado um terreno muito agreste. Nessa etapa inicial do seu percurso de 6275 quilómetros até ao Atlântico, o embrião do leito do Amazonas apresenta um caudal fortíssimo, decorrente dos degelos e marcado por inúmeras quedas de água de grande altitude.

 

Todavia, esta não foi a primeira vez em que uma equipa de exploradores da National Geographic procurou estabelecer o local exacto das nascentes do Amazonas. Em 1971, uma excursão de cientistas que se tinha deslocado aos Andes com esse objectivo, já apontara o local do Nevado Mismi, mas ele acabaria por ser fortemente contestado por uma boa parte da comunidade científica, havendo sérias dúvidas se o grande rio não teria a sua origem num outro curso de água nascido numa montanha diferente.

 

Desta feita, porém, essa hipótese ficou definitivamente afastada. Andrew Johnson, um geógrafo da Smithsonian Institution que participou nesta última expedição, comentou que se a nascente do Amazonas pode ser definida como o ponto mais distante da bacia hidrográfica onde se regista o fluxo permanente durante todo o ano, ou o ponto mais distante de onde a água corre para o Atlântico, o local no Nevado Mismi encaixa-se perfeitamente nestas duas definições.

 

A equipa constituída pela National Geographic Society integrou 22 investigadores dos Estados Unidos, da Polónia, do Peru, do Canadá e de Espanha. A sua tarefa foi homérica: para poderem explorar convenientemente os remotos rios que nascem nos Andes e se juntam para formarem o Amazonas — o rio Apurimac, o Huallaga, o Mantaro, o Maranion e o Urubamba-Villcanota —, e marcarem a sua posição, os cientistas deslocaram-se a pé, de jipe, de bicicleta e a cavalo.