Vêm aí os peixes-que-brilham-no-escuro
Vêm aí os peixes-que-brilham-no-escuro
Que tal ter mutantes no aquário? Seria a algo parecido com isto que Carl Sagan queria referir-se quando afirmou que «todos nós somos feitos de matéria das estrelas»? Hmm. Está-nos a querer parecer que não. Que nos desculpem os nossos leitores, mas não conseguimos resistir a esta história: os peixes verdes que podem ver na fotografia que ilustra este texto não são nem seres alienígenas nem foram pintados. Foram, isso sim, manipulados geneticamente. São exemplares totalmente criados em laboratório e possuem novos genes, seleccionados pelos cientistas que os «produziram», para ficarem com esta invulgar aparência verde-luminiscente. Acham que se dermos um deles a comer a um óscar ele julgará que é uma folha de alface?
Agora a sério, quem fotografou estes animais foi Simon Kwong, o correspondente da Reuters em Taipei, a capital de Taiwan, que publicou também uma reportagem a explicar melhor o que se estava a passar: os exemplares em causa são peixes «medaka», que acabam de ser desenvolvidos por uma empresa de Taiwan que é especializada na exportação de peixes tropicais e de acessórios para a aquariofilia, a Taikong Corporation. Para os mais desatentos, a Taikong Corporation é a fabricante da Azoo, uma marca de artigos para aquariofilia que entrou recentemente no nosso mercado.
Ainda de acordo com o repórter da Reuters, a empresa já começou a reproduzir estes peixes em larga escala e está a planear introduzir em breve o seu novo «produto» nos mercados internacionais de peixes ornamentais, mais concretamente dentro dos próximos seis meses. Ou seja: os interessados que estejam atentos às lojas da especialidade no final do primeiro trimestre do próximo ano; caso contrário correm o risco de já não arranjar peixes da sua cor favorita. Oficialmente, segundo os responsáveis da Taikong, o lançamento no mercado dos Estados Unidos deverá ter lugar entre Fevereiro e Março do próximo ano.
Embora a avaliar pela cor do vidro do tanque a foto tenha sido muito provavelmente tirada com recurso a iluminação ultravioleta — e se fosse à luz do dia o verde fluorescente dos peixes também não seria tão brilhante — não restam dúvidas de que o efeito é espectacular e de que as leis de Mendel foram levadas a novos limites. De facto, como já diziam os romanos, «scientia est potentia». Sendo também que neste caso em concreto o que vai estar em jogo deverá ser a potência luminosa.
Note-se todavia que estes «medaka» que supostamente brilham no escuro já não são os primeiros peixes transgénicos fluorescentes criados de propósito para "abrilhantar" — perdoem-nos o trocadilho — o nosso hobby. Na última Aquarama 2001, a grande feira do comércio aquático realizada em Singapura entre 31 de Maio e 3 de Junho, já tinham sido apresentados uns danios zebra (Brachydanio rerio) que também tinham sido geneticamente modificados e que brilhavam no escuro.
Esses zebras tinham sido geneticamente alterados para conterem diversos genes: incluíam designadamente genes de alforrecas que lhes davam uma coloração verde-luminosa ou então genes de uma anémona marinha que lhes davam uma tonalidade vermelha-luminosa ou cor-de-rosa-luminoso. Outras variantes incluíam o amarelo, sendo que em todos os casos esses danios zebras mantinham as suas riscas horizontais escuras características. Porém, a continuarmos assim, dentro de pouco tempo também essas riscas terão as cores do arco-irís.
Os danios zebra exibidos na Aquarama 2001 foram desenvolvidos na National University de Singapura como parte de um programa de investigação que, entre outras coisas, tinha como objectivo utilizá-los como indicadores da qualidade da água. Era suposto esses peixes mudarem de cor dependendo dos químicos ou poluentes presentes na água. Contudo, foi preciso pouco tempo para os criadores e exportadores locais de peixes ornamentais se aperceberem so potencial comercial desses exemplares transgénicos. Foram esses danios os primeiros animais de estimação do tipo que-brilham-no-escuro. Pela nossa parte, embora não estejamos nada interessados em manter nenhum peixe deste tipo nos nossos tanques, admitimos que estamos curiosos para saber qual será o preço.