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Óscar

Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831)

Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831)
Sinónimos / Etimologia
  • Lobotes ocellatus (Agassiz, 1831), Cychla rubroocellata (Jardine & Schomburgk, 1843), Acara compressus (Cope, 1872), Acara hyposticta (Cope, 1878), Astronotus ocellatus zebra (Pellegrin, 1904), Astronotus orbiculatus (Haseman, 1911)
  • Então aqui vai um pouco de semântica latina: "astro" quer dizer "estrela"; "notus" é "a traseira", ou as costas; "ocellatus" é que tem uma mancha, um ocelo, como um pequeno olho (no pedúnculo caudal, bem visível, semelhante aos antigos remendos dos pneus das bicicletas)

 

Classificação Taxonómica

Ordem: Perciformes > Família: Cichlidae

 

Distribuição Geográfica / Habitat
Distribuição geográfica da espécie
Distribuição geográfica da espécie

América do Sul, ocupando uma vasta área, que abrange o Amazonas e vai desde o Rio Negro ao Rio Paraná, incluindo o Río Paraguai, sendo que estes dois últimos rios nascem ambos no sudoeste do Brasil e alimentam no início a extensa região da bacia do Pantanal, acabando posteriormente por confluir e prosseguir na direcção do Sul.

 

O Óscar gosta de águas calmas mas muito bem arejadas e da luz natural do dia, embora se sinta mais à vontade com uma luz não muito intensa. No seu habitat de origem, às horas de maior calor, costuma repousar à sombra, deitado de lado, um comportamento que alguns espécimes por vezes exibem em aquário.

 

Ao recriar-se o seu habitat deverá sempre ter-se a preocupação de colocar rochas e troncos bastante grandes e pesados, que sejam muito difíceis de mover pelos animais e dispô-los de forma que ajudem a manter o areão que for movido para os lados no seu lugar, fazendo-o escorregar de volta para a posição inicial.

 

Outro truque comum é tapar quase completamente o fundo do aquário com rochas espalmadas e lisas, muto próximas umas das outras, que os impeçam de escavar até ao vidro. A capacidade destes peixes para removerem uma quantidade enorme de areão num curto espaço de tempo, mudando-o totalmente de lugar da noite para o dia, é de facto surpreendente.

 

Parâmetros da Água

 

  • Temperatura: 22-30°C (prefere 25-28°C)
  • pH: 7,0–7,8 (prefere 7,3–7,6)
  • Dureza: 150 ppm (água moderadamente dura)

 

Tamanho Máximo / Espaço em Cativeiro

Entre os 30 e os 35 centímetros, embora geralmente fiquem pouco acima de 25 centímetros. Contudo, num aquário amplo o Óscar pode chegar aos 40 centímetros, tanto para as fêmeas como para os machos. A maioria dos exemplares começam a ficar sexualmente maduros quando atingem os 15-20 centímetros. A esperança de vida média da espécie é de 10 a 12 anos, havendo todavia registos de peixes que viveram mais de 15 anos.

 

As dimensões mínimas para um aquário com um casal destes peixes andam na casa dos 300 litros, exigindo-se também que o tanque tenha uma boa altura e profundidade, de 50 centímetros, pelo menos, para cada uma destas coordenadas. Convém que o aquário esteja bem tapado, pois nos momentos de maior excitação, como a hora da comida, por exemplo, são capazes de agitar a superfície da água de tal forma que conseguem projectar vários litros para fora do tanque.

 

Caso seja mantido apenas um casal no aquário é de uma importância crítica que exista uma grande harmonia entre os dois, pois um conflito doméstico entre estes peixes pode facilmente resultar na morte de um membro do casal ou até de ambos.

 

Manutenção / Comportamento Social / Alimentação

É um peixe que gosta mais das zonas baixas do aquário, pois demarca o seu território a partir de um ponto no fundo, junto ao solo, mas que rapidamente ocupa toda a coluna da água. Apesar de aceitar sem problemas uma amplitude de temperaturas considerável e de ser também flexível quanto ao pH e à dureza, já no que toca à qualidade e à limpeza da água a situação é completamente diferente. É imprescindível uma excelente filtragem, pois o factor mais importante para a manutenção desta espécie prende-se com a qualidade biológica da água.

 

O Óscar é comilão e produz uma elevada quantidade de dejectos. Se o sistema de filtragem não for capaz de lidar satisfatoriamente com esse lixo, mantendo sempre a água cristalina — isto na medida do possível, bem entendido —, o bem-estar desta espécie será rapidamente afectado. Os pontos essenciais para assegurar essa qualidade da água são dispôr de um tanque com dimensões adequadas a esta espécie, deixar completar muito bem o ciclo de maturação biológica para amadurecer o sistema antes de introduzir os peixes, manter sempre a água extremamente bem oxigenada, e nunca sobrepovoar o aquário.

 

O seu comportamento social é muito repreensível. Pouco tolerante para com espécies mais pequenas, é altamente territorial e come tudo o que lhe couber na boca. Apesar de ser um peixe lento e relativamente vagaroso nos movimentos, essa limitação é compensada pela sua inteligência: é um caçador que sabe montar facilmente emboscadas às suas presas. Em época de reprodução, o seu instinto de territorialidade aumenta exponencialmente e um casal a preparar a desova é capaz de criar um verdadeiro clima de terror no tanque, de forma a manter os vizinhos a uma distância segura.

 

Por tudo isto, não deve ser colocado num aquário em que os outros peixes tenham menos de dois terços do seu tamanho e disponham de bastante espaço e esconderijos apropriados. Além disto tudo, se lhe "der na telha", pode transformar-se de um dia para o outro num verdadeiro bulldozer e revirar completamente a decoração que o seu dono tão laboriosamente criou no aquário, escavando buracos, movendo as rochas e troncos, arrancando as plantas, etc.

 

Segundo os especialistas, como o Óscar é um peixe muito atento e extremamente curioso, este comportamento de remover a decoração justifica-se pelo instinto de manter desimpedido o seu campo de visão, um comportamento que é aliás característico de muitos ciclídeos. Para fazer frente a esta eventualidade — e tendo em conta que estes peixes são glutões inveterados por natureza —, o melhor é não utilizar filtros de fundo no aquário e optar antes por um ou dois filtros exteriores de grande capacidade. E deve-se ter também a preocupação de colocar o termostato num sítio em que esteja protegido de eventuais investidas destruidoras.

 

A sua alimentação resume-se a peixe e carne, basicamente. Os espécimes juvenis aceitam comida em flocos e blocos liofilizados, além da prática comida congelada, claro, como artémia (Artemia salina), tubifex e larvas de mosquito. Mas rapidamente ficam grandes demais para manterem esses hábitos alimentares mais "civilizados". Nessa altura, o melhor será tentar habituá-los a granulados para ciclídeos de grandes dimensões, tipo "pellets", e começar a dar-lhes regularmente camarinha congelada, mexilhões congelados, pequenos pedaços de pescada congelada e até coração de boi.

 

Atenção, porém, porque esta dieta pode precisar de ser complementada com vegetais — ervilhas cozidas descascadas, por exemplo — e algumas vitaminas polvilhadas nos alimentos, além de exigir uma grande atenção aos pedaços que não forem imediatamente comidos, que podem ficar a estragar-se no fundo, afectando a qualidade da água. É que ainda por cima alguns indivíduos têm o péssimo hábito de após meterem a comida na boca voltarem a cuspi-la repetidas vezes antes de se decidirem por fim a comê-la; só que, às vezes, quando já não têm muita fome, esquecem-se mesmo de a comer e ela fica estragar-se.

 

Dimorfismo Sexual / Reprodução em Cativeiro

O dimorfismo sexual é praticamente inexistente, pois somente na época da desova é que a fêmea se deixa distinguir pela papila genital, que fica saliente.

 

Embora ainda se consigam encontrar por vezes nas lojas da especialidade alguns peixes selvagens — às vezes até surgem alguns da espécie Astronotus crassipinnis (Heckel, 1840) —, a maioria dos exemplares disponíveis no mercado são resultado de criação em cativeiro.

 

Um dos obstáculos com que se deparam os entusiastas que se aventuram a tentar reproduzir a espécie começa logo na obtenção de um casal. O Óscar não é um peixe que acasale facilmente e não basta fazer venting a uns exemplares, tentar escolher um macho e uma fêmea e juntá-los. Isso será «um tiro no escuro» e muito raramente poderá vir a funcionar. O método mais eficaz é reunir um grupo de 6 a 8 juvenis no mínimo, deixá-los crescerem juntos para aprenderem a conhecer-se uns aos outros e aguardar que cresçam, confiando que dali sairá um casal.

 

De dificuldade mediana, a reprodução faz-se numa área aberta, geralmente sobre uma pedra plana deitada no fundo. Essa pedra precisa de ter dimensões generosas para alojar as centenas ou mesmo milhares de ovos que uma postura de dois exemplares adultos costuma ter (há inúmeros registos de posturas bem sucedidas com 2.000 ovos).

 

O casal limpa meticulosamente a pedra num cerimonial ao mesmo tempo excitado e agressivo, enquanto "explica" claramente aos restantes inquilinos do tanque os limites seguros. A fertilização é feita logo após a postura. os pais arejam e vigiam cuidadosamente os ovos e são sempre excelentes guardas da sua prole.

 

Informação Complementar

Com uma forte personalidade que varia muito de indivíduo para indivíduo, o Óscar é consensualmente considerado como o mais inteligente dos peixes de aquário. Rapidamente aprende a reconhecer o dono e a vir comer à mão, havendo muitos casos em que alguns exemplares se deixaram "domesticar" e até a apreciarem carícias.

 

Existem várias variedades de óscares, sendo a maior parte delas fruto do apuramento de raças em cativeiro. O óscar selvagem tem o corpo castanho-escuro com alguns reflexos esverdeados, de um verde-azeitona, bem como o característico ocelo na cauda, que faz lembrar um olho e o ajuda a enganar os seus predadores.

 

Com a reprodução em cativeiro, os óscares foram ficando mais dóceis, mais lentos, e passaram a ter cada vez mais uma acentuada cor vermelha, sendo hoje fácil encontrar espécimes totalmente vermelhos e até albinos. A variedade vermelha foi desenvolvida por Charoen Pattabonge, um homem de negócios tailandês, e começou a aparecer nas lojas de peixes em 1969.

 

Segundo Hans A. Baensch, o primeiro registo sobre a introdução de óscares no mercado data de 1929 e terá ocorrido em Berlim, na Alemanha, pela mão dos importadores Scholze & Poetzschke.

 

Bibliografia:

 

Pronek, Neal (1982): «Oscars», T. F. H. Publications Inc., Neptune City, NJ, EUA

 

Pronek, Neal & Scott, Brian (2006): «Aquarium Care of Oscars», Animal Planet Books, T. F. H. Publications Inc., Neptune City, NJ, EUA