As necessidades de oxigénio
Quantos peixes podemos pôr num aquário? É muito frequente vermos alguns aquariófilos indicarem cálculos de referência que tentam estabelecer uma relação supostamente válida entre o tamanho dos peixes em adultos e o volume de água do tanque, tendo em vista sustentarem assim a escolha do tamanho do aquário. A bitola mais comum varia entre um mínimo de 1,5 litros de água até um mínimo de 4 litros por cada centímetro de um peixe adulto, não incluindo a sua cauda, isto consoante o tamanho máximo que a respectiva espécie possa atingir. Todavia, estes cálculos são contestados por inúmeros especialistas e a nosso ver com toda a razão.
Na verdade, mesmo sendo apenas um indicador teórico, esta directriz apresenta duas grandes deficiências. A primeira delas é que o comprimento de um determinado peixe nunca indica por si só o seu impacto total num sistema aquático fechado. O segundo grande problema desta fórmula é que também não considera a área da superfície do tanque, que é sem sombra de dúvida o factor mais limitativo para se conseguir determinar a sua lotação com alguma margem de segurança, pois envolve muitas variáveis críticas que giram em torno do tema da quantidade de oxigénio presente na água, a qual por seu turno também varia com a temperatura, a circulação, etc.
Mas vamos começar por analisar a primeira fragilidade desse cálculo, que está ligada ao impacto dos peixes no ecossistema. Enquanto há algumas espécies de peixes mais compridos e estreitos, outras espécies já têm o corpo muito mais cheio. Como o conceito de massa equivale à matéria total presente num corpo, só por aqui logo se vê que a massa corporal de ambos já é totalmente diferente. Por seu turno, como o conceito de peso corresponde a uma aceleração invisível que atrai os corpos para a superfície da Terra por força da gravidade, o peso de dois peixes que tenham o mesmo comprimento pode perfeitamente ser também bastante diferente. Além de que à medida que eles forem crescendo, tanto a sua massa como o seu peso podem aumentar muito mais depressa que o comprimento. Perante estas variáveis, a tal relação teórica até pode ter sido respeitada mas na prática o resultado final é que o sistema tanto pode estar sobrecarregado como o impacto do peixe sido sobrestimado.
Já quanto à desvantagem de no cálculo de referência não ser tida em conta a área de superfície do tanque é muito mais complicada, pois envolve directamente a questão das trocas gasosas e por conseguinte a concentração total de oxigénio dissolvido na água. Ora a presença de oxigénio em quantidade suficiente é um aspecto crítico para conseguirmos que o sistema se mantenha biologicamente saudável, pois não são só os peixes a necessitar de oxigénio para viverem. Como eles vão remover o oxigénio dissolvido da água e libertar dióxido de carbono ao respirarem, vão ser grandes consumidores do oxigénio, é certo. Mas as bactérias e a flora que nos ajudam a manter a higiene o equilíbrio biológico também vão precisar de oxigénio. Posto isto, torna-se evidente que a quantidade de oxigénio dissolvida na água do tanque é um dos factores cruciais para conseguirmos proporcionar um ambiente seguro a todos os seres vivos no tanque e não apenas determinar uma lotação de peixes segura.
Oxigénio dissolvido (mg/l) | Condições da água |
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0-0,5 mg/l | Anóxica |
0,5-2 mg/l | Hipóxica |
2-3 mg/l | Prejudicial a vários seres vivos |
5-10 mg/l | Saudável |
> 10 mg/l | Eutrófica |
Nota: |
Tipo de peixes (Aquário) |
Área da superfície por cada centímetro do peixe (excluindo a barbatana caudal) |
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Água doce tropical | 25 cm2 por cm |
Água doce fria | 75 cm2 por cm |
Água salgada fria e tropical | 120 cm2 por cm |
Nota: |