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Uma odisseia com o espaço

Quanto maior, melhor

Em aquários altos as plantas podem ficar surpreendentemente grandes

Quando equacionamos as dimensões que o tanque deverá ter, a norma é: «quanto maior ele puder ser, melhor». De fora destas contas vamos precisamente deixar o custo, critério que será seguramente muito importante para cada um, mas que a nós nos transcende: o H2Omania não vende aquários. Quando muito, poderá indicar quem venda.

 

Todavia, se o custo é um problema para si, a nossa sugestão é que tente ler os anúncios classificados e procure encontrar um tanque usado que se encaixe no seu orçamento. Não se esqueça de examinar com cuidado os tanques usados e de ver se os vidros não estarão muito riscados. Cuidado com os aquários que não estejam montados: se um tanque usado não estiver a funcionar, não terá garantias de que ele não tem nenhuma fuga de água!

 

Analisemos então as questões colocadas pelo tamanho. Se a regra é, repetimos, «quanto maior, melhor», também é inegável que esta premissa é condicionada por vários aspectos de ordem prática, que já abordamos noutra página: de quanto espaço dispõe, qual o peso que o seu soalho aguenta, quanto dinheiro está disposto a gastar, etc. Lembre-se de que, quanto maior for o tanque, mais dinheiro terá também de gastar nos equipamentos de que precisará para o pôr a funcionar. É preciso fazer bem essas contas, pelo que vamos dar-lhe já a seguir a fórmula para calcular a capacidade de um aquário.

 

Calcular o volume bruto do aquário

 

Precisa de calcular o volume bruto do seu aquário, não é? Não se esqueça que depois de ele estar decorado — com substrato, areão, rochas, troncos, seixos, etc — a quantidade de água vai ser menos 10 a 20% do que a capacidade total e isto é muito importante para quando precisar de calcular dosagens rigorosas para os produtos que necessite de adicionar à agua (sejam eles remédios, fertilizantes, etc). A fórmula da equação está aqui em baixo:

 

Comprimento x Largura x Altura (em cm)

1.000

 

Calcular a capacidade do aquário em litros
Comprimento x Largura x Altura ÷ 1.000 = Litros
60 cm x 30 cm x 35 cm ÷ 1000 =  63,0 Litros
70 cm x 30 cm x 35 cm ÷ 1.000 =  73,5 Litros
80 cm x 30 cm x 40 cm ÷ 1.000 =  96,0 Litros
100 cm x 40 cm x 50 cm ÷ 1.000 = 200,0 Litros
120 cm x 40 cm x 50 cm ÷ 1.000 = 240,0 Litros
150 cm x 40 cm x 50 cm ÷ 1.000 = 300,0 Litros
200 cm x 50 cm x 60 cm ÷ 1.000 = 600,0 Litros

  Exemplo: num aquário de 1 metro de comprimento, multiplica-se esse valor em centímetros pela largura e pela sua altura e divide-se o resultado por 1.000. A sua capacidade em litros é o valor final.

 

...e já que estamos nisto, para converter o volume do seu aquário para galões americanos — o que dá sempre jeito se estiver a ler algum livro importado — só tem de multiplicar os litros por 0.2642. Para o converter para galões imperiais já terá de os multiplicar por 0.2200. Isto porque um galão americano equivale a 3,785 litros mas um galão imperial, do Reino Unido, já equivale a 4,546 litros.

 

Sintetizando, se a questão do espaço disponível não o preocupa, tente encontrar um tanque que tenha no mínimo 120 centímetros de comprimento. A principal razão para esta nossa recomendação tem a ver com a iluminação: as lâmpadas fluorescentes que apresentam uma melhor relação qualidade/preço são as com um comprimento de 740 milímetros. As lâmpadas fluorescentes menores do que este tamanho já representam uma enorme limitação em termos de tipos de luz e espectros. Além disso, tendem igualmente a não ser de "arranque instantâneo" e podem causar problemas com alguns balastros. Por último, as lâmpadas mais pequenas tendem a ser proporcionalmente muito mais caras. De há alguns anos a esta parte entraram também no mercado os sistemas de iluminação com recurso a tecnologia LED, mas as realmente boas ainda são extremamente caras.

 

Ainda no capítulo da iluminação, um aquário de 120 centímetros já permite conjugar dois tipos de luz na iluminação, o que deixa satisfazer tanto as necessidades dos peixes e das plantas. Todavia, se puder optar por um tanque um pouco mais comprido que 120 centímetros, será sempre melhor. As lâmpadas de 740 milímetros podem ser colocadas de forma a iluminarem um comprimento ligeirmente superior a 120 centímetros. Aliás, permita-nos deixar aqui uma crítica à maior parte dos fabricantes de calhas de iluminação para aquários, que parecem não perceber que os tanques com plantas exigem uns watts a mais para serem bem sucedidos do que os que obtemos com um par de lâmpadas de 20 watts!

 

Grandes no tamanho e nos acabamentos

 

Pessoalmente, a nossa preferência vai para os aquários com 150 centímetros de comprimento, com capacidades brutas na casa dos 300 litros. Aliás, este comprimento até parece estar a tornar-se um standard para vários fabricantes que disponibilizam aquários já com estruturas externas de plástico ou de alumínio muito perfeitas em termos de acabamentos, em que as tampas deslizam de forma a fechar quase por completo o aquário, reduzindo ao máximo a perda de água por evaporação.

 

Além disso, este tamanho também já é compatível com lâmpadas fluorescentes de 1200 milímetros sem problemas. E o comprimento extra, quer no aquário quer nas lâmpadas, resulta num efeito visual muito distinto. Expliquemo-nos melhor: quando nos sentamos perto de um aquário para o observar, costumamos ficar a uma distância do vidro frontal que nos permita cubrir toda essa área com a nossa visão periférica. Assim, perante um aquário de 150 centímetros, além de nos sentarmos mais atrás — algo que também contribui para deixar os peixes mais tranquilos —, ele parece tão largo que nem lhe conseguimos ver as pontas. Isto faculta uma ilusão óptica, pois parece que o tanque se estende por muito mais do que a realidade.

 

Depois disto, em termos de comprimento, existem alguns aquários de 2 metros disponíveis de fábrica, mas as opções em termos de modelos já são muito mais limitadas. Para comprimentos superiores, já é preciso por norma recorrer a encomendas especiais, algo que faz sentir as suas desvantagens tanto no preço como nos acabamentos. Mas se para si o dinheiro disponível para gastar no tanque não é o principal problema, avance. Particularmente, devemos confessar que esse é um dos grandes problemas, a par da limitação do espaço disponível, evidentemente. Afinal de contas, qual o aquariófilo inveterado que não sonha com um tanque de parede a parede?

 

Largura decisiva para a decoração

 

Passemos agora a analisar a importância da largura do aquário ou, melhor dizendo, da sua profundidade do ponto de vista visual. Como ponto de partida, podemos assegurar que, quanto maior for a sua largura, melhor conseguirá decorá-lo de uma forma funcional e atractiva. Ao dispôr de mais espaço poderá criar diferentes planos visuais, jogando com camadas de rochas, troncos e plantas desde a frente para trás. Se o espaço for generoso, esse tipo de abordagem visual permitir-lhe-á criar um efeito panorâmico muito apelativo sem grande esforço. Se, ao invés, o seu tanque for estreito, terá de criar uma decoração em escadaria, a subir da frente para trás, para tentar fazê-lo parecer mais profundo do que aquilo que ele realmente é.

 

Em nossa opinião, a largura mínima para todos os aquários deveria ser de 50 centímetros. Dessa forma, os peixes teriam sempre espaço para se refugiar da visão ameaçadora que para eles representam as pessoas que gostam de encostar o nariz ao vidro do aquário. E parece escusado dizer-lhes que embora o «écran» do tanque tenha uma alta definição, deve-se olhar para ele um pouco afastado, como para os televisores, e não a dois palmos, como se fosse um monitor Super VGA.

 

Infelizmente, a maior parte dos aquários mais comuns — e mais baratos — ficam muito aquém desse valor. Aliás, mesmo nos aquários standard de 150 centímetros de frente a largura costuma ficar-se pelos 40 centímetros, um valor bastante limitativo para nos podermos estender artisticamente quando avançamos para a sua decoração. De qualquer modo, menos de 40 centímetros é que é manifestamente insuficiente. Apenas optaríamos por um aquário assim tão estreito se o lugar onde o pretendíamos colocar ou o preço fossem a grande limitação.

 

Para certas espécies, como a <em />Heterandria formosa</em>, não é preciso um tanque muito profundo
Para certas espécies, como a Heterandria formosa, não é preciso um tanque muito profundo

Mas não fique a pensar, caro leitor, que se trata de uma "birra" nossa: mesmo 5 centímetros extra afiguram-se muito mais importantes do que parecem quando chega a altura de fazer os arranjos de plantas, rochas e troncos. Quando começar a trazer para casa plantas que viu na loja e a que não conseguiu resistir, vai perceber do que é que estamos a falar. Das duas uma: ou lhe vão parecer pequenas demais e teria de gastar "uma pipa de massa" para adquirir um número suficiente para tapar "aquele" espaço, ou, ao invés, ficam apertadas mesmo na zona central.

 

Todavia, se elas "agarrarem" bem, mesmo as mais pequenas, depois de alguns meses a crescer, vão levá-lo a pensar em como um pouco mais de espaço lhe dava "um jeitaço". Além de que as plantas maiores podem ficar mesmo grandes quando se dão bem e chegam à maturidade! É por isso que insistimos: para conseguir alguma vez obter aquelas plantas fantásticas com que sempre sonhou, pense num aquário um pouco mais largo.

 

Estética versus funcionalidade

 

Só que, na realidade, nem tudo é assim tão linear, pois se já estiver a pensar em montar um tanque gigante, olhe que demasiada largura num aquário também traz outro tipo de problemas, que exigem uma reflexão prévia. Para começar, antecipando a sua manutenção, por exemplo, não se esqueça de que as plantas vão ter de ser frequentemente podadas e replantadas. Ou seja, essa banal tarefa poderá tornar-se algo complicada num tanque em que seja difícil atingir a zona mais funda da parte traseira.

 

Para lhe dar um exemplo, existe um amigo nosso que possui um aquário com 70 centímetros de largura por 90 de profundidade e que precisa de se pôr em tronco nu antes de trabalhar nele. E em jeito de brincadeira nós dizemos-lhe que ele corre sérios riscos de envenenar os peixes: tanto devido ao desodorizante — ele tem de mergulhar os braços até aos ombros — como devido à falta dele...

 

Em resumo, se está a pensar num tanque assim tão grande, ensaie antes estas pequenas tarefas de manutenção. Assegure-se de que estaria a trabalhar nele no local onde o pretende colocar em casa e finja que a tarefa demorava meia hora... Deixe-se estar nessa posição durante esse período e depois mande-nos um mail a dizer como é que se sente das costas.

 

Alto como as plantas gostam

 

O mesmo problema se coloca, como é óbvio, quando o aquário é alto demais. Contudo, também aqui há prós e contras. Quanton mais alto for o tanque, mais probabilidades tem das plantas poderem crescer até ao seu tamanho máximo ou até crescerem mais do que aquilo que esperaríamos.

 

Pessoalmente, já tivemos a oportunidade de constatar isso há alguns anos com a vulgar Microsorium pteropus, quando mudámos uma série de plantas destas para um aquário bastante maior e, sobretudo, mais alto, que ficou no mesmo local onde estava o anterior. Apesar das plantas já estarem anteriormente com um ar bastante viçoso, no novo aquário cresceram desmesuradamente, ficando inclusivamente com um tamanho superior ao que era referido nos livros de plantas de aquário.

 

Em resumo, para lá do aspecto estético, possuir um aquário alto significa mais tempo entre as podas às plantas e melhores condições em geral para elas. Mas para os peixes? Aí é que é preciso ter atenção, pois uma das razões porque provavelmente as plantas se dão melhor residirá no facto das zonas mais profundas terem menos oxigénio, o que para os peixes já pode representar um problema.

 

Por outro lado, há que ter atenção para verificar se as zonas mais profundas não ficam muito mais frias que as da superfície. Além disso, há espécies que não se dão bem com profundidades elevadas, por causa do aumento da pressão — a maioria dos anabantídeos gostam de águas muito pouco profundas, por exemplo... Por tudo isto, uma altura entre 40 centímetros — menos será muito limitativa — e 70 centímetros — mais dificultará o acesso — será a ideal, dependendo do resto das dimensões, para haver alguma proporcionalidade.

 

Por último, se a altura do tanque for superior a 80 centímetros, poderá sentir também dificuldades em iluminar adequadamente as zonas mais profundas e ter de recorrer aos sistemas de iluminação por lâmpadas de halogéneo, que são muito mais caros. Geralmente esses sistemas são utilizados sobretudo em aquários tropicais de água salgada. Mas disso falaremos mais adiante.