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Os segredos dos ouvidos das baleias

As adaptações nos ouvidos das baleias foram extremamente rápidas

As imponentes baleias devem a sua grande capacidade de nadar ao facto de terem desenvolvido uma peculiaridade anatómica: os fósseis das mais antigas baleias que têm sido encontrados até agora mostram que elas se tornaram exímias nadadoras devido a uma simples alteração física que se registou na escala evolutiva e que ocorreu há cerca de 10 milhões de anos.

 

Os cientistas que se têm debruçado afincadamente sobre esta matéria acreditam que os antepassados das actuais baleias eram animais que viviam sobre a terra e que apenas se arrastaram para o mar em momentos de grande perigo para escapar aos seus predadores e noutras ocasiões em busca de alimentação suficiente que escasseava nos continentes de então.

 

Os mamíferos em questão, os antepassados das nossas baleias e golfinhos, foram perdendo gradualmente os seus membros e rapidamente adaptaram-se por completo à vida dos oceanos. Os seus membros acabaram substituídos por aquilo que vulgarmente chamamos barbatanas, mas que têm uma estrutura completamente diferente dos apêndices dos peixes.

 

De acordo com as novas descobertas, publicadas num artigo da revista Nature, um dos segredos de adaptação à vida em meio aquático foi a rápida evolução do aparelho auditivo, a nível do ouvido interno, de uma forma mais rápida do que seria de esperar.

 

A equipa, chefiada por Hans Thevinssen, da Universidade de Ohio, verificou que os canais semicirculares, o orgão responsável pelo equilíbrio e situado no ouvido interno, já estava adaptado ao meio líquido há cerca de 45 milhões de anos. Os seres humanos apenas notam as sua funções quando alguma coisa corre mal, como por exemplo, a ingestão de álcool a mais ou o excesso de balanço dos navios, que acabam por causar enjôo.

 

As baleias actuais, golfinhos e roazes (cetáceos) têm o ouvido interno idêntico aos mamíferos terrestres. No entanto, são mais pequenos do que o dos mamíferos terrestres. O nosso ouvido interno, por exemplo, é bem maior do que o de uma baleia azul. Contudo, e em comparação com um elefante, uma baleia pode fazer saltos e movimentos acrobáticos e meias voltas e até voltas inteiras, de forma rápida, sem experimentar o mínimo enjôo. Isto pelo facto de o aparelho auditivo interno ser mais pequeno e portanto menos sensível.

 

Os fósseis encontrados mostram que o ouvido interno das baleias de outros tempos evoluiu rapidamente e adaptou-se às novas necessidades permitindo que nadem das maneiras mais inesperadas, sem se tornarem "bichos tontos".

 

As primitivas baleias provavelmente tornaram-se completamente aquáticas há cerca de 5 a 10 milhões de anos, mas a sua adaptação ao mar começou há perto de 50 milhões de anos. Pode parecer um período extremamente longo, mas à escala evolucionista é uma adaptação muito rápida.

 

Rich Lane, director da US National Science Foundation, especializado em paleontologia, e que integra a equipa de cientistas diz que «a evolução nas têmporas de pequenos canais semicirculares nos cetáceos abriu um nicho completamente novo aos mamíferos e contribuiu para a grande diversidade de baleias que hoje ainda temos nos mares». Adiantou que a aquisição desta especialização de orgãos e de funções — como o cérebro e o andar erecto no homem — forneceram mecanismos que permitiram o domínio de certos ambientes e meios naturais.

 

Recorde-se que há cerca de um ano Thewissen descobriu os fósseis de dois antepassados das baleias, que mostram de forma óbvia que eram essencialmente animais terrestres, o que veio resolver a controvérsia sobre as relações das baleias com outros animais ungulados (porcos, hipopótamos, camelos, veados, e carneiros) em detrimento de um grupo de mamíferos carnívoros já extinto.