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Pleco, limpa-vidros

Hypostomus plecostomus (Linnaeus, 1758)

Hypostomus plecostomus (Linnaeus, 1758)
Sinónimos / Etimologia
  • Acipenser plecostomus (Linnaeus, 1758), Plecostomus plecostomus (Linnaeus, 1758), Pterygoplichthys plecostomus (Linnaeus, 1758), Hypostomus guacari (Lacepède, 1803), Loricaria flava (Shaw, 1804), Plecostomus bicirrosus (Gronow, 1854), Plecostomus brasiliensis (Bleeker, 1863)
  • Deriva do grego: "hypo" significa "em baixo"; "stoma" é "boca"; e "pleco" quer dizer "com pregas", "com dobras". Ou seja, que tem a boca dobrada em baixo

 

Classificação Taxonómica

Ordem: Siluriformes > Família: Loricariidae

 

Distribuição Geográfica / Habitat
Distribuição geográfica da espécie
Distribuição geográfica da espécie

América do Sul, distribuindo-se por uma ampla área, que vai desde os rios do Suriname, no Norte, passando por toda a bacia do Amazonas, até ao Uruguai, no Sul, inclusivamente até ao Rio de La Plata, o estuário formado pela convergência dos rios Paraná e Uruguai.

 

Têm como habitat preferido os rios e os córregos de fluxo rápido, com áreas abertas na parte central da coluna da água e substratos de seixos, com pedras e troncos presos entre as rochas e cobertos de algas, que potenciam simultaneamente um emaranhado de cavernas e esconderijos e uma boa fonte de alimentação, pois trata-se de uma espécie altamente herbívora e que também gosta de raspar a madeira.

 

Todavia, também se encontram frequentemente plecos nalguns rios da América Central, tanto do Panamá como da Costa Rica, embora nessas regiões seja discutível se a espécie não terá sido introduzida, devendo assim ser antes considerada invasora. Dado que são peixes muito resistentes e adaptáveis, ​​que tanto podem viver em água doce como em água marcadamente salobra, os plecos foram introduzidos em muitas zonas do globo e estão hoje classificados como uma espécie altamente invasora em inúmeras regiões. Precisamente por essa razão persistem dúvidas se são endémicos dos habitats onde hoje se podem encontrar nos países do Sul da América Central ou se, ao invés, foram introduzidos. Sabe-se que as populações existentes no México foram introduzidas.

 

Nos Estados Unidos a espécie começou por se estabelecer no Sul na segunda metade do século passado, nomeadamente na Flórida e no Texas, onde foi introduzida por aquicultores que os queriam usar como meio de controlarem as algas nos seus tanques, mas nas últimas décadas espalhou-se por vários outros estados, designadamente Louisiana, Pensilvânia, Arizona, Colorado, Nevada, Connecticut e até no Havai e em Porto Rico. Presentemente é considerada a espécie da família dos Loricarídeos mais espalhada geograficamente e até nos estuários de alguns rios da Índia, designadamente na região de Kerala, no Sul do país, já é considerada uma praga. No Vietname, no Bangladesh, no Sri Lanka e nas Filipinas também já lhe foi atribuído o estatuto de espécie invasora.

 

Como o nível da água nos rios onde os plecos vivem varia muito consoante a quantidade de pluviosidade, o leito desses rios chega a secar nas estações do ano sem chuva. Perante estes factores, a espécie adaptou-se para sobreviver em corpos de água que em tempos de forte seca ficam mesmo muito pequenos e entre essas adaptações conta-se a capacidade dos plecos conseguirem respirar pela pele, bem como de se contorcerem em terra seca, para assim se movimentarem de um corpo de água para outro maior, em busca de condições mais favoráveis. Os plecos podem viver até 30 horas fora da água se armazenarem oxigénio suficiente no estômago e nos intestinos e é precisamente por essa razão que muitas vezes podem ser observados a engolirem golfadas de ar na superfície da água.

 

Na Natureza, as populações concentram-se sobretudo nas zonas dos rios onde o fluxo da água é mais rápido, designadamente em tocas debaixo das pequenas cascatas dos rápidos, pois eles apreciam as tocas profundas nos leito lamacentos para se reproduzirem, podendo depositar até 300 ovos de cada vez. Ao recriar-se o seu habitat em cativeiro deve-se portanto ter o cuidado de lhe criar esconderijos perto da zona onde o fluxo da água seja mais forte.

 

Parâmetros da Água

 

  • Temperatura: 20-30°C (prefere 25-28°C)
  • pH: 6,2-8,0 (prefere 6,5-7,0)
  • Dureza: 90-300 ppm (água moderadamente dura a muito dura)

 

Tamanho Máximo / Espaço em Cativeiro

Entre os 30 e os 50 cm, embora por regra fiquem ligeiramente acima dos 25 cm. Como os plecos costumam geralmente ser vendidos em juvenis pelas lojas da especialidade — com o argumento de que são muito úteis para controlarem excessos de algas —, um erro frequente é subestimar o espaço de que eles necessitam para se desenvolverem. Em boas condições os plecos crescem depressa e rapidamente ficam demasiado grandes para os aquários mais comuns, com menos de 150 litros.

 

Todas as variedades desta espécie requerem um aquário espaçoso e gostam também de ter à disposição alguns covis e tocas de madeira ou de pedra, para descansarem no período diurno, uma vez que peixes noctívagos e como tal são mais activos à noite. Os plecos necessitam de um aquário com 200 litros, no mínimo, com uma considerável quantidade de abrigos e plantas robustas e fortemente enraizadas, e a sua esperança de vida média em cativeiro é de 10 a 15 anos, sendo superior a 15 anos na Natureza.

 

Manutenção / Comportamento Social / Alimentação

Esta espécie gosta das zonas mais baixas do aquário e precisa de zonas livres para nadar. Embora seja bastante tolerante relativamente à composição química e até à temperatura da água, gosta dela bem filtrada e oxigenada, com uma corrente forte que replique o ambiente natural dos rios de onde provém. Os plecos são conhecidos por produzirem muitos dejectos e como atingem um tamanho considerável a questão do fluxo da água e da qualidade da filtragem assume-se como um factor essencial para se manterem saudáveis e em perfeitas condições.

 

A territorialidade dos plecos é outra questão habitualmente mal esclarecida. Os exemplares adultos são territoriais e mais dados a disputas dentro da mesma espécie. Em muitos casos esses confrontos até podem ser relativamente frequentes, mas regra geral não têm consequências graves e aparentam ocorrer menos vezes quando são mantidos no mesmo aquário vários exemplares de tamanho semelhante.

 

Aliás, não é apenas o facto de os plecos serem muito úteis por manterem os vidros e as superfícies dos tanques livres de algas que os torna populares entre os aquariófilos. Também a sua natureza amigável em relação às outras espécies de peixes é outro factor que os converte num favorito. Contudo, uma vez mais, quando totalmente crescidos, podem revelar esporadicamente alguma agressividade face às outras espécies, em particular se não dispuserem de espaço adequado.

 

No que toca à sua dieta, outro erro muito comum na manutenção da espécie é partir do pressuposto de que as algas que surgem naturalmente nos tanques são suficientes para alimentar os plecos, porque nunca o são. Estes peixes precisam de receber com regularidade suplementos na respectiva dieta, com forte predominância de vegetais e fibras, designadamente pastilhas de spirulina. Os plecos também apreciam pedaços de alface, de espinafre, de courgette e de abóbora, ervilhas e pepinos sem casca (a casca é indigesta) e até fruta, como bananas e malancia, além de aproveitarem os restos de comida dos companheiros do tanque.

 

Os plecos podem ser mantidos em tanques com plantas vivas, mas estas terão de estar firmemente enraizadas ou ancoradas e serem resistentes, porque eles gostam de as desenterrar e eventualmente até de comê-las, sobretudo se forem tenras. Embora os hábitos alimentares da espécie sejam predominantemente herbívoros, a realidade é que estes peixes são considerados omnívoros, pois alimentam-se de algas e de plantas mas também de invertebrados, de peixes pequenos e até de praticamente de qualquer alimento fresco ou preparado.

 

Não é raro verificar também exemplares a denotarem comportamentos necrófagos, mas isso sucede quase sempre apenas em cadáveres recentes. Em aquários onde coexistam com outras espécies herbívoras de hábitos diurnos, é uma boa prática servi-los assim que as luzes do tanque se apaguem ara assegurar que recebem alimentos vegetais em quantidade suficiente.

 

Os plecos necessitam igualmente de madeira para se manterem saudáveis: tal como sucede no seu habitat natural, precisam de raspar, roear e mastigar madeira para manterem os intestinos a funcionar sem problemas. Uma solução muito usada para fornecer aos plecos tanto as tocas de que gostam como madeira para eles rasparem é introduzir no tanque uns troncos de bambu largos, pois eles usam a parte oca e cilíndrica para se esconderem e raspam a superfície do bambu.

 

Dimorfismo Sexual / Reprodução em Cativeiro

As diferenças entre os sexos não são visíveis e até à data ainda não foi registada a reprodução com sucesso de plecos em aquário. Embora a reprodução em cativeiro já seja feita regularmente e em larga escala há várias décadas por criadores de peixes ornamentais no Sudeste Asiático, desde a Tailândia, Malásia e Singapura até Hong Kong, bem como na Flórida, nos Estados Unidos, é sempre conseguida em lagoas e com condições especiais. Nessas lagoas os plecos cavam túneis em bancos de rochas e lama e criam uma espécie de câmara de nidificação, tendo já sido registados casos em que derrubaram a terra das margens com as suas escavações.

 

Na Natureza a reprodução desta espécie é efectuada em tocas profundas que os casais escavam nas margens dos rios. Os casais preferem cavar a sua toca nos lados mais íngremes e enlameados dos rios, sendo que as posturas são em média de cerca de 300 ovos. O macho também ajuda frequentemente na guarda dos ovos e após absorverem o saco vitelino os alevins alimentam-se do muco corporal que é segregado pelos pais durante os primeiros dias. Estas condições de criação são mimetizadas em cativeiro, sendo que algumas semanas após o nascimento dos alevins as lagoas são drenadas para se removerem tanto os pais como os filhos.

 

Informação Complementar

Existem mais de 120 espécies de plecos e todas apresentam a boca característica, localizada na parte inferior da cabeça, com lábios em forma de ventosa que lhes permitem aderir a superfícies lisas e raspar e sugar as algas que nelas existam. Em resultado deste número considerável de espécies — sendo que muitas delas são morfologicamente bastante semelhantes entre si e muitas outras ainda nem sequer estão descritas —, a correcta identificação dos exemplares deste género de loricarídeos é frequentemente um problema, sobretudo quando ainda são bébés.

 

De facto, é muito habitual verem-se várias outras espécies a serem também vendidas nas lojas da especialidade como plecos comuns, em particular outros Hypostomus e até peixes do género Pterygoplichthys spp. (designação que provém das palavras gregas "pterygion", diminutivo de "pteryx", que significa "asa" ou "barbatana", juntamente com "hoplon", que quer dizer "arma" e ainda "ichthys", que é o mesmo que "peixe").

 

Na denominação comum incluem-se vulgarmente muitas espécies pertencentes ao género Pterygoplichthys, mas na realidade existem diferenças morfológicas significativas entre essas espécies e as do género Hypostomus. Entre os traços distintivos mais evidentes nos dois géneros conta-se o facto de os Pterygoplichthys terem 10 ou mais raios na barbatana dorsal, ao passo que os Hypostomus têm apenas 8 raios, ou mesmo menos ainda. Outra diferença clara também na barbatana dorsal é que é sempre bastante maior nos Pterygoplichthys.

 

Existem ainda várias diferenças significativas nos padrões e na coloração de ambos os géneros, embora este critério já não seja tão nítido para os distinguir, uma vez que nos Pterygoplichthys existem inúmeros padrões e colorações, que variam não só consoante a espécie como também consoante o habitat de origem de cada uma das diferentes variedades. O Pterygoplichthys multiradiatus (Hancock, 1828), por exemplo, tem um padrão muito semelhante ao do Hypostomus plecostomus e é muitas vezes vendido com a classificação científica trocada.

 

Entre as espécies de Pterygoplichthys mais vendidas no mercado português sob o nome comum de pleco contam-se provavelmente o Pterygoplichthys joselimaianus (Weber, 1991), também conhecido pela designação de "pleco dourado" (L001 e L022) bem como o Pterygoplichthys gibbiceps (Kner, 1854), este último conhecido por "pleco leopardo" (L083 e L165). Note-se todavia que os requisitos para a manutenção de todas estas espécies são muito parecidos e que todas elas atingem dimensões semelhantes.

 

Os plecos são vendidos em bébés aos milhares em todo o mundo a aquariófilos incautos como sendo uma excelente solução para ajudar no controlo das algas nos pequenos tanques comunitários. Como já foi referido, isso acaba por ser um erro crasso, pois os peixes que sobrevivem ficam enormes e acabam a curto prazo por não dispôrem de território suficiente. Posto isto, começam rapidamente a assumir comportamentos que nada mais são do que o reflexo das condições inadequadas em que são mantidos. De limpadores de algas transformam-se em destruidores de plantas, o seu carácter territorial manifesta-se de forma mais vincada e começam a assediar os companheiros de tanque, criando-lhes um forte stress. Além disso, como são de hábitos nocturnos, muitas vezes estes comportamentos não são apercebidos pelos aquariófilos inexperientes e a saúde do sistema entra em desequilíbrio.

 

Em síntese, os plecos não são de todos adequados para a maioria dos aquários. Ao invés, são uma espécie excelente para tanques muito grandes com companheiros de dimensões semelhantes, onde tenham à disposão espaço para fazerem as suas incursões nocturnas, alimentando-se de algas e restos de alimentos. Todos os plecos são espécies robustas e não lhes são conhecidos predadores na Natureza. Nos aquários também raramente são incomodados, inclusivamente por peixes maiores, pelo facto terem uma espécie de "armadura" que os protege de agressores. Por outro lado, mesmo em juvenis também os outros peixes não os comem pelo facto de os raios das suas barbatanas dorais serem espinhosos e perfurantes.

 

Precisamente por isso podem infligir ferimentos dolorosos aos aquariófilos caso sejam mal manuseados, sendo também frequente fazerem buracos nos sacos plásticos durante o transporte. É para evitar que isso suceda que os exemplares de grandes dimensões costumam ser acondicionados em tubos rígidos de PVC, furados e colocados na água dentro dos sacos de plástico. O objectivo deste método é prevenir acidentes desse tipo.

 

Bibliografia:

 

Boruchowitz, David E. (2001): «The Simple Guide to Freshwater Aquariums», T. F. H. Publications Inc., Neptune City, NJ, EUA

 

Dawes, John (2001): «Complete Encyclopedia of the Freshwater Aquarium», Firefly Books Inc., Buffalo, NY, EUA

 

Scheurmann , Ines (1986): «The New Aquarium Handbook», Barrons Educational Series Inc., Hauppauge, NY, EUA