Pesquisa

Redescoberto o peixe esquecido pelo tempo

Encontrada nova população de celacantos

Os celacantos habitam em cavidades onde quase não chega a luz

Está listado como «vulnerável» no International Red Data Book, a categoria onde se incluem as espécies mais ameaçadas de todas. Está também listado no Apêndice 1 da CITES-Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora, o que significa que não pode ser objecto de troca comercial. Mas agora as notícias dificilmente poderiam ser melhores: a equipa de mergulhadores de Pieter Venter e da «Coelacanth Expedition 2000» — da qual faz parte um português — acaba de localizar na costa nordeste da África do Sul, mais concretamente em Sodwana Bay, a terceira colónia de celacantos de que há conhecimento em todo o mundo.

 

Venter já tinha visto um celacanto naquelas mesmas águas em Outubro passado. Nessa expedição, que se estendeu durante três meses, a sua equipa de mergulhadores acabaria por conseguir encontrar três celacantos. Mas os que agora encontraram não são os mesmos que observaram antes, garantem os mergulhadores, pois as suas pintas brancas ao longo do corpo têm padrões distintos. No entanto, como a plataforma continental ao largo da costa de Sodwana Bay está repleta de grutas e cavernas submarinas, desde cedo a equipa de investigadores suspeitou de que seria um excelente lugar para um peixe nocturno como o celacanto viver.

 

De facto, com base nas observações efectuadas à população de celacantos das Comores, durante o dia eles usam as cavernas para se esconderem, pois são um sítio seguro para descansarem e evitar os predadores. À noite saem e vêm para perto da superfície para se alimentarem de peixes nos recifes. Ora a área de Sodwana, em pleno Oceano Índico e a Sul do Canal de Moçambique, está cheia de peixes desses, que são mais do que suficientes para alimentarem uma colónia de celacantos.

 

Assim, com base nos presentes indícios, é muito razoável presumir que a população reprodutiva do Latimeria chalumnae não estará só confinada ao arquipélago das Comores, onde a colónia conhecida é tão pequena que os especialistas já previam que esta espécie pré-histórica poderia vir a desaparecer nos próximos entre 20 a 40 anos. Na verdade, a equipa de Pieter Venter ainda não sabe ao certo o lugar exacto da colónia. No ano passado tiveram de suspender as pesquisas antes de descobrirem o local preciso, apesar de saberem que estavam perto, pois viram os celacantos durante o dia.

 

E estavam tão perto com efeito que este ano, logo depois de retomarem os mergulhos na zona de Sodwana Bay — bastaram quatro dias de mergulho —, conseguiam reencontrar um celacanto de 1,3 metros, a 100 metros de profundidade. Era um exemplar adulto e os mergulhadores conseguiram fotografá-lo várias vezes e filmá-lo durante cinco minutos. Num dos mergulhos seguintes voltaram a ver mais dois exemplares, sendo que um media cerca de 2 metros, ou seja, provavelmente será o maior já visto até hoje.

 

Como o ar comprimido se torna tóxico para os mergulhadores a partir dos 90 metros de profundidade, a equipa de Venter recorreu ao trimix. Os mergulhadores lançavam-se sobre a área correcta e demoravam aproximadamente 4 minutos para baixar com segurança aos 100 metros. Uma vez lá em baixo, dispunham de cerca de 12 minutos, tendo depois de começar a subir lentamente e de parar por várias vezes a diferentes profundidades para fazer a descompressão correctamente.