Pesquisa

Correntes marinhas

Fundo do mar é fonte de calor

As correntes quentes transportam cem vezes mais água que todos os rios

Uma campanha de pesquisas oceanográficas sobre a circulação da água profunda no Atlântico Oeste — considerada um parâmetro essencial da evolução do clima da Europa ocidental — foi realizada com a participação de um navio especializado gaulês, anunciou o Instituto Francês de Pesquisas para a Exploração do Mar. Depois de trabalhados os dados recolhidos, os resultados serão publicados num relatório, ainda este ano. Este estudo é de alta importância pois esclarecerá o grau de implicação das correntes no clima do Velho Continente.

 

A força e a variabilidade das correntes no oceano profundo são muito difíceis de avaliar e de seguir. No entanto, têm uma grande influência sobre o clima, uma vez que transportam uma grande quantidade de calor em redor do planeta.

 

Só no Atlântico, esse calor corresponde a mais de um milhão de gigawatts. Sem a transferência do calor através das correntes do Atlântico Norte, a temperatura da Europa do Norte seria em média 5 graus centígrados inferior à que temos actualmente. No caso de França, sem o calor transportado pela corrente do Golfo do México, passaria praticamente todo o Inverno com temperaturas negativas.

 

Baptizada de MOVE, esta campanha foi financiada pelo Ministério Federal da Educação e Pesquisa alemão. O projecto inscreveu-se num contexto internacional do programa Clivar (Climate Variability), afirma um comunicado dos responsáveis pelo programa.

 

O objectivo desta missão, da responsabilidade do IFM (Institut für Meerrekunde), de Kiel, foi desenvolver, testar e implantar um sistema de observação das circulações oceânicas que transportam as águas quentes para o Norte e trazem as frias para o Sul, a uma profundidade de mil metros. A pesquisa baseou-se na utilização de bóias em linhas de ancoragem equipadas com instrumentos de medida. Estes aparelhos medem a temperatura, salinidade, pressão e as correntes no espaço de um ano, ou mais.

 

Os sistemas adicionais medem o tempo que os sinais acústicos levam para ir até ao fundo e voltar, ou entre duas ancoragens separadas por uma centena de quilómetros. O novo sistema, que ainda se está a desenvolver, compreende várias ancoragens que se estendem ao longo de mais de mil quilómetros, indo de Guadalupe, nas Caraíbas, à crista médio-Atlântica do fundo do mar.

 

As medições já recolhidas devem permitir determinar a quantidade de água que passa sobre este sistema na direcção norte-sul. Os pesquisadores estão a interessar-se principalmente pela "faixa" de água que vai dos mil aos quatro mil e quinhentos metros com origem nas altas latitudes do Atlântico norte conhecida como "água profunda do Atlântico norte".

 

Sobre o lado oeste, são observadas correntes fortes. Aqui, como nas outras ancoragens, estão também instalados correntómetros. Duas das ancoragens estão equipadas com um sistema de transmissão de dados em tempo real, por satélite, para a Alemanha. A sensibilidade deste sistema de circulação de correntes às influências externas, tal como o efeito de estufa, é um dos objectivos principais do programa de pesquiva internacional Clivar.

 

Os pesquisadores, cujos trabalhos podem ser seguidos através do site https://www.ifremer.fr/move, lembram que uma partícula de água do oceano leva cerca de mil anos a percorrer o conjunto do oceano, levada pelas correntes, e a voltar ao seu ponto de partida para recomeçar a viagem. Já se apurou igualmente que a quantidade de calor armazenado nos três primeiros metros de água abaixo da superfície é maior do que o calor da atmosfera.

 

Este transporte de água quente representa uma quantidade de água cem vezes mais importante que todos os rios da Terra reunidos. Cada dia que passa, há uma massa de 24 milhões de quilovátios-hora que é levada da zona equatorial em direcção ao hemisfério norte.