Pesquisa

Pesca de arrasto

Capturas excessivas estão a despovoar os mares

Os métodos dos arrastões dizimam espécies sem interesse comercial

Os navios de pesca de arrasto em profundidade estão a destruir populações de peixes e outros animais marinhos a um nível alarmante, afirmou o biólogo Callum Roberts, da Universidade de York, no Reino Unido, na reunião anual da American Association for the Advancement of Science (AAAS), sublinhando que essas perdas poderão levar centenas de anos a recuperar. Outros cientistas relataram, na mesma ocasião, que as capturas de diversas espécies de peixes no Atlântico Norte diminuíram para metade, nos últimos 50 anos, apesar de no mesmo período ter triplicado o esforço de pesca.

 

O progresso nas técnicas de pesca e nos materiais usados permite actualmente aos pesqueiros fazerem arrasto a profundidades até perto dos 900 metros, ou mesmo mais, mas os lentos ciclos de vida das espécies que aí vivem significam que essas populações poderão desaparecer se continuarem expostas à exploração em larga escala. A essas profundidades o crescimento é tão lento que serão necessárias décadas para a reposição de peixes capturados, ao passo que os corais danificados levarão centenas de anos a recuperar.

 

Callum Roberts deu como exemplo uma espécie do Pacífico, ao largo da Nova Zelândia, a Hoplostethus atlanticus, que foi reduzida a um quinto da população original devido ao arrasto em profundidade. Ora, como esses peixes, como vivem até aos 150 anos e só começam a reproduzir-se depois dos 20, levarão décadas a recuperar mesmo em condições óptimas. «A maiores profundidades, as artes de pesca estão a afectar espécies e habitats menos capazes de recuperarem do que as que vivem nas águas menos profundas», sublinhou Roberts, acrescentando que o estabelecimento de reservas marinhas é a única solução para evitar a dizimação das espécies.

 

O problema, disse Roberts, é que as áreas de pesca a grande profundidade estão em águas internacionais e convencer as nações a prescindirem dessas zonas será extremamente difícil. «Além disso, a pesca a grandes profundidades está a ser encorajada pelos governos, que oferecem subsídios para essa actividade, de modo a aliviar o decréscimo de stocks nas águas costeiras», acrescentou.

 

Uma das consequências é igualmente o decréscimo de stocks mesmo em águas profundas, disse ainda Roberts. Aliás, um outro estudo apresentado em Boston por um grupo internacional de biólogos marinhos tira as mesmas conclusões. Segundo este grupo, a pesca intensiva no Atlântico Norte levou a que a captura de algumas das espécies mais cobiçadas, como o bacalhau, o atum, o arenque, a palmeta e a solha, tenha descido para metade em meio século, apesar de ter entretanto triplicado o esforço da indústria da pesca.

 

«A única maneira de manter as capturas é aumentar o esforço. Mas são precisos peixes para criar mais peixes, e com isso chegámos a uma enorme diminuição de produtividade», comentou Daniel Pauly, da Universidade da Colúmbia Britânica.

 

Estudos anteriores tinham mostrado quebras desastrosas ao largo da Nova Inglaterra e da Terra Nova, mas a nova pesquisa de Pauly e colegas revelou que o desastre se aplica a todo o Atlântico Norte. «Pode-se pensar que estamos a fazer progressos com algumas espécies, mas, no conjunto, estamos a perder a guerra para uma boa administração pesqueira», sublinhou o cientista, acrescentando que peixe importado de outras regiões «está a mascarar a nossa crise», enquanto se destroem esses ecossistemas para consumo dos países ricos.